quinta-feira, 18 de junho de 2009

EACH na imprensa... Chaui e a Daslusp

Reportagem Usp Lost 2005

A USP Leste e a "Daslusp"

Ao tratar da situação da universidade brasileira hoje, e ao localizar a questão dentro do âmbito mais geral da reforma do Estado em curso no Brasil (em artigo de 1998), Marilena Chauí afirma que o fundamento ideológico da reforma (definida como "racionalizadora e modernizadora", segundo preceitos do neoliberalismo) não prevê apenas a saída do Estado "do setor de produção para o mercado", mas também do setor de serviços públicos, pois estabelece uma identificação imediata entre intervenção estatal reguladora da economia e direitos sociais.

"Em outras palavras", explica a professora de filosofia da Universidade de São Paulo (USP), "exclui as exigências democráticas dos cidadãos ao seu Estado e aceita apenas as exigências feitas pelo capital ao seu Estado, isto é, exclui todas as conquistas econômicas, sociais e políticas, vindas de lutas populares no interior da luta de classes. Essa identificação entre o Estado e o capital em sua forma neoliberal aparece de maneira clara na substituição do conceito de direitos pelo de serviços, que leva a colocar direitos (como a saúde, a educação e a cultura) no setor de serviços estatais, destinados a se tornar não-estatais." (Marilena Chauí, "A Universidade Hoje", em Escritos sobre a Universidade, Editora Unesp, 2001.)

Uma vez que, também segundo Chauí, na redefinição e redistribuição das atividades estatais propostas pela reforma, a educação se coloca no campo dos "serviços não-exclusivos do Estado" - isto é, aqueles que podem ser realizados por instituições não-estatais, na qualidade de prestadoras de serviços -, o Estado deixa de considerar a educação um direito dos cidadãos e passa a tratá-la como qualquer outro serviço público, que pode ser terceirizado ou privatizado. Talvez seja esse pensamento o que ocupa a cabeça dos jovens da"Juventude Manifesto", movimento comunitário por vagas para os mais pobres nas universidades públicas, localizado em Ermelino Matarazzo, bairro da zona leste de São Paulo. Talvez esteja aí o motivo da revolta e da reivindicação deles.

Os jovens da Juventude Manifesto deploram a USP Leste, o novíssimo campus da Universidade de São Paulo numa das regiões mais pobres e povoadas da cidade (a zona leste, que abriga 4,5 milhões de pessoas). Eles condenam a USP Leste (que chamam de A Mentirosa, e que fica exatamente no bairro deles, Ermelino Matarazzo), por ser o que consideram um arremedo de universidade e não uma verdadeira universidade.

Desde a sua inauguração oficial, em fevereiro de 2005, a USP Leste enfrenta protestos dos jovens de cursinhos populares da região. Alegam que a Universidade de São Paulo montou, na USP Leste, uma universidade para pobres, sem as carreiras nobres (medicina, direito, engenharia), sob a desculpa de que seu estatuto proíbe a realização de um mesmo curso em campi da mesma cidade. Alegam que, em vez de medicina, a USP Leste oferece obstetrícia (espécie de curso de parteira mais qualificada); no lugar de propaganda e publicidade (uma das carreiras mais concorridas do campus principal, no bairro do Butantã, zona oeste), oferece marketing, curso que formaria os peões das agências de publicidade e não os criadores; e que, em vez de ciências da computação, criou o curso de sistemas de informação, voltado para a formação de técnicos, e não de cientistas.

Não há como julgar improcedente a reclamação dos estudantes. Eles sabem, inclusive, que aquele campus da USP Leste não foi criado para eles, apesar de as aparências indicarem que foi isso o que aconteceu - não é absurdo pensar que aproximar geograficamente a USP da população pobre da zona leste implica criar nesta mesma população a ilusão de que ela agora pode cursar a USP ali mesmo (mais perto, mais barato). E implica supor (mais grave ainda) que a população vai, portanto, parar de reclamar por vagas na verdadeira universidade das carreiras nobres, da qual se sente excluída.

É como se a USP tivesse criado a USP Leste para si mesma, tirando dos estudantes o direito que eles tinham a uma verdadeira universidade. Afinal, que estatuto é esse que não pode ser mudado em favor da justiça social e da distribuição eqüitativa do conhecimento? A USP Leste teria sido criada para responder ao capital, ao mercado? Em mais de um curso da USP Leste, o texto de justificativa para sua criação cita coisas do tipo: "modificações culturais, econômicas e sociais profundas nas últimas décadas"; "competição no mercado interno"; "cobrança social por aumento de vagas no ensino superior". A USP Leste seria a USP "modernizada" para atender essas demandas - mas não é a USP democratizada.

Estaríamos diante da universidade perdida em si mesma, conforme observa Marilena Chauí? Ao analisar as transformações da Universidade de São Paulo, iniciadas ao longo dos anos 70 e, hoje, consubstanciadas no modelo neoliberal, Chauí diz que "a universidade operacional, dos anos 90, difere das formas anteriores. De fato, enquanto a universidade clássica estava voltada para o conhecimento, a universidade funcional (dos anos 70 do "Milagre econômico" da ditadura) estava voltada diretamente para o mercado de trabalho, e a universidade de resultados (dos anos 80, das parcerias entre universidades públicas e empresas privadas) estava voltada para as empresas; a universidade operacional, por ser uma organização, está voltada para si mesma como estrutura de gestão e de arbitragem de contratos. Em outras palavras, a universidade está virada para dentro de si mesma, mas, como veremos, isso não significa um retorno a si, e sim, antes, uma perda de si mesma?. (...)" "Virada para seu próprio umbigo, mas sem saber onde este se encontra, a universidade operacional opera e por isso mesmo não age. Não surpreende, então, que esse operar coopere para sua contínua desmoralização pública e degradação interna", conclui a filósofa.

Recentemente, um jornalão diário de São Paulo apelidou de Daslusp (referência à marca de moda Daslu com USP) - numa demonstração pública de desmoralização da USP - um projeto de cursos livres, palestras e oficinas de estudo, iniciativa privada chamada Casa do Saber - conhecida como Daslusp, dizia o jornal, por misturar professores da USP e socialites que assistem às aulas sentadas em poltronas e pufes, bebem vinho nos intervalos e pagam até 600 reais por curso. Ora, a Casa do Saber não tem nada a ver com a USP, a não ser por conta de dois ou três nomes de professores razoavelmente conhecidos que atuam ali, os quais têm sua imagem colada à USP (foram ou são professores desta universidade).

Então, por que a associação? De duas, uma: ou porque a USP virou mais uma grife de mercado, ou porque a tal Casa do Saber já nasceu como grife, para atrair as socialites, as únicas que podem pagar o preço cobrado ali pelo saber. Da arrogância do nome ao aglomerado de satélites sem brilho próprio que forma seu corpo docente, a Casa do Saber é uma coisa esdrúxula, que se define como um centro extra-acadêmico de debates e disseminação do conhecimento, vive nas colunas sociais dos jornalões, é patrocinada por um banco e tem entre os membros de seu conselho ninguém mais, ninguém menos que Gabriel Chalita, atual secretário de Educação do Estado de São Paulo, mais novo guardião da farsa que tem sido o ensino público estadual sob o comando nocivo do PSDB. Gabriel Chalita é um populista midiático. Em vez de envidar esforços por uma educação pública de qualidade - que colocasse nas universidades públicas os jovens pobres do Estado -, participa da disseminação do saber para ricos e ajuda na construção do templo da Renovação Carismática católica, do padre Marcelo Rossi!

Marilene Felinto é escritora e jornalista. [Revista Caros Amigos ]


Editorial: A crise na USP

'A peculiar noção do 'direito sagrado de opinar' tolhe outros direitos'

As "aulas" dadas pelos professores Antonio Candido e Marilena Chauí aos grevistas da USP, verberando a violação, pela Polícia Militar (PM), do "direito sagrado de uma pessoa opinar" e propondo a alunos e funcionários que "atuem e exagerem", "aproximando a Universidade da realidade social", não poderiam ter sido mais bem ilustradas pelo que ocorreu logo em seguida no refeitório do Instituto de Química, que atende 3,5 mil pessoas diariamente, na Cidade Universitária, oferecendo refeições completas ao preço subsidiado de R$ 1,90.

Depois de invadir o restaurante em plena hora do almoço, cerca de 300 grevistas liberaram a catraca, deixaram os usuários comer de graça e justificaram a iniciativa em nome do direito sagrado de fazer greves, piquetes e ocupações de próprios da USP. "A comida não vem pronta e é necessário que todos se sensibilizem com a greve dos funcionários", disseram os líderes do protesto, demonstrando, em termos práticos, como compreenderam a exortação à "ação e ao exagero" feita por Antonio Candido.

Pertencente à primeira turma formada pela USP, no final da década de 30, Candido afirmou que a instituição foi criada para a elite e que, em seus primórdios, ela não analisava questões sociais. Por ironia, as principais atividades que os grevistas por ele apoiados conseguiram suspender, como "bandejões", creches e ônibus circulares, são, justamente, as que atendem os servidores e os alunos pobres. A contradição não passou despercebida na comunidade acadêmica. "A greve só prejudica quem não tem recursos para pagar por outra alimentação. Quem faz o movimento estudantil é a massa burguesa de classe média que está desconectada do mundo", afirma Dioclézio Domingos, estudante de filosofia que mora no Crusp e que precisou fazer traduções para pagar as despesas que aumentaram, por causa da suspensão dos serviços sociais da Cidade Universitária.

Também não passou despercebida da comunidade acadêmica outra flagrante contradição, esta cometida pela professora de filosofia política Marilena Chauí, que parece ter esquecido de que não há democracia onde não há regras e de que a tolerância é um dos princípios básicos da Universidade – quando criticou a decisão da Justiça de convocar a PM para garantir o patrimônio da USP e o acesso ao prédio da Reitoria. "Não é a eleição de um novo reitor que vai mudar a USP. Temos de pensar uma maneira de desestruturar essa gestão vertical e centralizada", disse Marilena.

Insuspeito por pertencer ao mesmo grupo que ela, o professor Dalmo Dallari lembra que não se pode confundir "participacionismo" com anarquia e que o princípio da autonomia universitária não exime docentes, discentes e servidores do respeito às mais elementares normas do Estado de Direito. "As manifestações extremadas são um exagero que estimula a violência. (Os grevistas) não apresentam manifesto dizendo o que querem e partem para a violência, arrebentando a Universidade, invadindo-a e proibindo seu funcionamento. Isso é inaceitável", afirma ele.

A verdade é que, com 15 mil funcionários, 80 mil alunos e 5,4 mil professores, a maior instituição brasileira de ensino superior está vivendo uma crise deflagrada por uma minoria de sindicalistas, professores e estudantes vinculados a grupelhos políticos radicais e sem representatividade.

Isso é evidenciado pelas pesquisas que têm sido feitas nas diferentes unidades da USP, onde as aulas continuam sendo dadas normalmente. No câmpus da zona leste, por exemplo, uma votação online mostra que a maior parte dos alunos é contra a greve. Até mesmo na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), tradicionalmente a que mais adere a paralisações, há mais votos de estudantes se dizendo contra do que a favor da greve dos servidores iniciada há um mês e meio.

Não fosse essa a situação real, não haveria necessidade de piquetes nem de ocupações violentas da Reitoria que o professor Antonio Candido não considera "violação do direito sagrado de uma pessoa opinar". Para ele, piquetes e ocupações pela força bruta são, no máximo, "exageros" que ele aplaude e estimula.

fonte: http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup389391,0.shtm




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