segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Diário de Viagem - Cidade Constitucional - 2010.



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Primeiro Dia 06/09


Querido Guimarães Rosa... Como pude sentir na pele, e respirar o ar seco sob o sol de enxofre que o Sr. comenta nas suas mágicas narrativas. Um punhado de cerrado, mais um pouco de gente simples e terra batida: temos a soma sincera de algumas de suas passagens.
Dentre bons amigos, e boa conversa. Sorrisos. Homens e Mulheres bonitas com um objetivo: tentar encontrar um pedaço de republicanismo na terra dos senhores de escravos, e de cartas de nobreza... As pirâmides de JK... Desesseis horas e mais um pouco, rápidos momentos à sombra de alguma espectativa... Enfim, chegados... Mala desfeita, profunda respirada. Cansaço.
Professor Nerling sorria à exemplo da juventude: traçava as diretrizes do encontro, delineando a necessidade do controle e respeito entre os colegas (entende-se: nada de álcool). Nossos motoristas, cansados da invernada, não sustentaram o itinerário da tarde.
Agora, ao escrever no meu alojamento, escuto o murmurinho dos colegas. Professor canta: “Bora lá, gente...”. Pizza, para terminar a noite como costumeiramente aqui se contempla. Ritual tradicional dentre os políticos da região.

Segundo Dia 07/09
Acordamos com um peso no corpo e certa animação. O horário para assistirmos o desfile, num regime de tempo bastante rigoroso, fez com que corrêssemos um pouco para chegarmos a tempo. Ressalvo que o professor Nerling manteve o gosto pelas roupas exóticas.
Chegamos no horário certo, passando pelos pontos mais conhecidos de Brasília. A Explanada dos Ministérios, o palácio do Itamaraty, o Supremo Tribunal e o prédio do Congresso Nacional: é interessante a cápsula ilusória que douramos ao redor da Cidade Constitucional. Acreditava que tudo era maior, mais belo, inclusive o Presidente. Mas tudo é simplesmente, normal. Humano. Simples e objetivamente assim.
Caminhamos dentre as ruas numeradas, presenciamos manifestações e algumas palavras de ordem. Vimos os militares, civis, intelectuais entre amigos.
Não conseguiria definir de forma suficiente a alegria de presenciar as bandas do desfile. Mesmo sabendo que se tratava de uma distante lembrança de Getúlio, me senti bastante satisfeito com os batuques e requebradas do coração brasileiro: somos assim mesmo, tortos igual Garrincha e Aleijadinho... Alguém precisa consertar?

Alcançamos, no retorno, o Museu do Construtor - Juscelino Kubtcheck, tendo a oportunidade de colher várias informações e contemplar seus objetos pessoais e intelectuais. Sua biblioteca, repleta de tomos de medicina. Suas conquistas acadêmicas, diplomas e fotos. Também vimos o lado humanizado do ex-presidente. Conveniei, que quando passasse a dormir no Palácio da Alvorada (!), pensaria num projeto de museu dos verdadeiros construtores. Mas como lembram sempre da Muralha, e não da argamassa viva que lhe constituiu, penso que esse fator/realidade mesmo presente é amplamente discutível. Despacharei com sabedoria... Sonhos e mais sonhos...

Terceiro Dia 08/09

Acordamos um pouco mais cansados. As místicas da madrugada pesaram como restrições severas de sono. Fechamos os olhos de noite, e abrimos de manhã.
Começamos com uma interessante palestra, sobre a ENAP e as dificuldades de gestão na esfera federal. Discutimos desafios, e objetivos a serem alcançados. O Ministério do Planejamento, por articulação de nosso Centro Acadêmico, consolidou importantes considerações acerca de nossa atividade de formação gerencial e correlatos, com a presença de representantes da Secretaria de Gestão. Discutimos também os desafios e tendências da administração pública brasileira e gestão estratégica organizacional: diante de temas diretamente envolvidos com gestão prática e de competências, desenhamos os principais desafios e problemas da atual máquina de governo brasileira.
Ao distinguirmos as debilidades sugeridas, neste movimento de discussão, levamos em consideração a questão da COMPETÊNCIA: composta de conhecimentos, habilidades e atitudes. Tendo cada cidadão a sua, os governantes também apresentam essas peculiaridades. Nosso primeiro palestrante, formado em psicologia, fomentou uma interessante discussão sobre os processos de ação do Estado na manutenção de sua estrutura de recursos humanos.
Após as palestras na ENAP, nos dirigimos para a explanada dos Ministérios, apreciando dois outros encontros. Um no Ministério da Educação, onde discutimos as políticas nacionais de educação, e outro no Ministério do Desenvolvimento Agrário, onde comentamos a política de integração conhecida como Territórios de Cidadania.
Recuamos ao alojamento, e entrinxeirados nas camas, dormimos pouco.

Quarto dia 09/09/2010

Bela Aurora derramava seus cabelos sobre a Terra: e eu com uma vontade tremenda de relaxar um pouco mais. O roteiro inicial de nosso dia contemplava uma visita à casa do legislativo brasileiro: fomos recebidos para discutirmos sobre a Comissão de Legislação Participativa, suas limitações e oportunidades à democracia. Repensamos a utilização do menor caminho entre os interesses da população e a câmara dos deputados.
Após, visitamos o belo prédio e estrutura do Ministério da Justiça. Quadros de ministros da velha república, senhores de barbas empoeiradas, enfeitavam as paredes da sala. Comemos em um restaurante do SENAC, maravilhoso: quisera eu ter tempo de apreciar um pouco mais uma boa comida, respirando bacharelismo. Assistimos uma palestra sobre as instituições públicas não estatais, sobre a postura do governo para unir um cadastro destas organizações. Debatemos, brevemente, sobre a classificação de obras de arte e publicidade, realizada também pelo Ministério.
Contrastantemente, o Ministério da Cultura não apresentou prédio tão belo... Arrisco dizer que dentre todos os ministérios que visitei, foi o menos “pomposo”... Ressalvo-lhe sua importância! Salões belos, com obras de arte e inspiração, porém depredados e – talvez de certa forma – negligenciados. Quem nos recebeu foi Prof. Nilo, um dos coordenadores do CONAMA: no mesmo prédio, temos o Ministério do Meio Ambiente.
Sr. Nilo comentou sobre a relevância dos critérios e padrões para a sustentabilidade em debate público e participativo, um grande eixo político de integração entre a manutenção sustentável do meio ambiente e o governo democraticamente participativo: uma área de integração entre os cursos de Gestão Ambiental e Gestão de Políticas Públicas.

Quinto dia 10/09/2010

Não comentarei novamente sobre minhas restrições de sono. Começamos em um deslocamento para o Ministério da Saúde, onde contemplamos um debate sobre o Sistema Único de Saúde, mais especificamente sobre o programa Saúde da Família. Discutimos suas debilidades, desafios e oportunidades. De forma interessante, indicadores transportam a idéia da saúde envolvida com outras temáticas sociais: dinâmicas positivas, econômicas e políticas, são potencializadas à luz da atenção à saúde. Conversamos também sobre a carreira de diplomacia, inspirada nas relações internacionais e correlatos.
Após o almoço, vislumbramos uma palestra com o Sr. Mário Lisboa, um dos diretores do IPEA. É muito confortável perceber que os setores da administração pública, em seus mais diversos redutos, flertam com os estudantes de gestão pública e interessados na participação. Apesar das fortes restrições e limitações mecânicas que envolvem a máquina do Estado, é notável essa realidade em alguns redutos de Brasilia. Dentre as principais atribuições do IPEA, uma delas (e notadamente a de maior inspiração em gestão) trata-se de “Produzir, articular e disseminar conhecimento para aperfeiçoar as políticas públicas e contribuir para o planejamento do desenvolvimento brasileiro...”. Entendo que esse mote pode garantir algumas certezas e objetivos, e de toda sorte, podem contribuir para um melhor estado: mais efetivo e inclusivo.
Caminhamos, logo após, para o Palácio do Planalto, onde aproveitamos uma palestra sobre os mecanismos de gestão do PAC. Os objetivos do PAC são acelerar o ritmo do crescimento da economia (crescimento sustentável); aumentar o emprego e a renda e diminuir as desigualdades sociais e regionais; e manter os fundamentos de segurança macroeconômicos: inflação sob controle, consistência fiscal e solidez nas contas externas. Discutimos a concepção do PAC pensando em dois grandes blocos de medidas: melhoria do ambiente para o investimento e as obras de infra-estrutura. No mesmo espaço, discutimos também sobre os investimentos para a copa e para as olimpíadas: sua operacionalização, responsabilidades e coordenação.
Abraços, Basílio...



Paulo Cesar de Abreu Paiva Junior
Gestão de Políticas Públicas (GPP)
Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) - USP LESTE


"Ouçam: a Sabedoria está chamando, o Entendimento faz ouvir sua voz? Nas elevações, ao longo do caminho, nas encruzilhadas das estradas, junto as portas na entrada da cidade e nos portões de saída, ela se apresenta, exclamando: Homens, eu me dirijo à vocês, eu me dirijo aos filhos de Adão, para que os ingênuos aprendam a sagacidade, e os insensatos adquiram bom senso." (Provérbios 8:1-5)


Um comentário:

Diow disse...

Bela Narrativa. abraços.

Ainda há esperança. Que venham os futuros líderes deste país...

Jovens querem ser políticos

USP LESTE - EACH

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Opiniões sobre o ciclo básico da EACH. 1

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