quarta-feira, 17 de junho de 2009

ANTÔNIO CONSELHEIRO E O SURGIMENTO DE CANUDOS NA AUSÊNCIA DO ESTADO

Universidade de São Paulo

Escola de Artes, Ciências e Humanidades


Projeto de Pesquisa



ANTÔNIO CONSELHEIRO E O SURGIMENTO DE CANUDOS NA AUSÊNCIA DO ESTADO



Aluno: Renan Contreras -

Professora: Marta M.Assumpção Rodrigues

Curso: Gestão de Políticas Públicas



São Paulo

2008



Resumo:

A presença de um Estado central em qualquer nação teoricamente é imprescindível para o progresso, manutenção da cidadania e para o fornecimento de direitos e condições justas e dígnas para a população, população essa que o financia e o sustenta

Porém, nem sempre em toda nação, estado ou município existe a presença da atuação significativa do governo, da existência da aplicação de políticas públicas para a melhoria da sociedade.

Neste trabalho, analisa-se através da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, um exemplo de "governo independente" e comunidade auto-sustentável, a figura de Antônio Conselheiro, personagem messiânico que peregrinava pelo sertão nordestino juntando-se a fiéis que buscavam a salvação de uma vida miserável marcada pela seca e fome em busca de uma terra fértil e com expectativas de vida esperançosas, que se resultou no arraial autônomo de Canudos.




Sumário:



Introdução............................................................01



Objetivos..............................................................



Métodos..............................................................



Anexos.................................................................

Bibliografia.........................................................


Introdução

O Brasil no período do final do século XIX, encontrava-se em situações políticas conturbadas, nas quais revoltas provinciais com âmbitos separatistas e revoltas sociais em busca de melhores condições de vida e maiores direitos participativos políticos, faziam com que o governo se encontrasse em diversas guerras civis e em diversas regiões.

Populações se viam esquecidas pelas ações públicas do governo, vivendo em condições precárias e na maioria, dependentes dos grandes latifundiários que dominavam grande parte das terras produtivas do país. Assim, uma das poucas ações do Estado para o povo era a força militar.

No nordeste, não era diferente. Fome, seca, miséria, violência e principalmente o abandono político afetavam os nordestinos, na sua grande maioria de populações carentes. Populações essas, que conseguiam encontrar na fé, o único motivo para a salvação.

Assim surgia Antônio Vicente Mendes Maciel, ou Antônio Conselheiro, o futuro líder de Canudos. Pregava por volta de 1870 pelo interior do nordeste, organizando mutirões para a construção de igrejas e cemitérios. Acreditava ser um enviado de Deus para mostrar a salvação e guiar o sofrido sertanejo. Além disso, tinha uma visão política na qual se opunha ao novo regime, que via como a personificação do Anticristo, e criticando o casamento civil e o registro de mortes e nascimentos, introduzidos com a Constituição de 1891, agravando seus conflitos com a proclamação da República.

Após liderar rebelião contra a cobrança de impostos, fixou-se com seus seguidores, em 1893, na região de Canudos, às margens do rio Vaza-Barris, no nordeste da Bahia, criando Belo Monte como refúgio sagrado, contra as secas da região e as leis seculares da República. É este foi o lugar escolhido por Antônio Conselheiro para construir sua última morada. O nome do lugar era Canudos, devido a uma planta chamada Canudos-de-Pito, com a qual os antigos moradores fumavam longos cachimbos.

Posteriormente, chegaram algumas centenas de fiéis seguidores e se estabeleceram, iniciando assim, a construção de uma comunidade sertaneja com o uso coletivo da terra, sem polícia e sem impostos e onde não tinha patrão nem empregado. Havia também um comércio.

As características sociais e econômicas de Canudos, atraíam milhares de pessoas de todo o sertão nordestino. Falava-se em toda a região que em Belo Monte "corria rios de leite e as barrancas eram de cuscuz", e assim, a cidade crescia a um ritmo acelerado. Continuamente chegava novos grupos de pessoas de todas as direções.

A Igreja de Santo Antônio, também chamada de Igreja Velha, logo se tornou pequena para a multidão, que a noite se reunia pra cantar as ladainhas e ouvir as pregações de Conselheiro. Canudos era circundada por inúmeros becos estreitos e entrelaçados, compostos de casas de taipa, que eram construídas de forma desordenada e em grandes mutirões, e
assim se formava o arraial de, onde negros ex-escravos constituíam parcela expressiva da população encontraram a "alforria da terra", encontravam escolas com professores além de uma cidade onde era proibida tabernas, aguardentes e a prostituição.

Toda a construção dessa comunidade independente, entraria mais tarde em três conflitos com o Exército, nos quais, em seu último, acarretaria assim no extermínio do arraial com força total dos militares, utilizando armamento pesado importado alemão.

Canudos, e principalmente Antonio Conselheiro, foram a prova de que a ausência efetiva da participação do Estado e suas políticas públicas não impedem o "aparecimento de novos gestores públicos", de novos personagens que possam assim criar políticas independentemente de forças políticas, força econômica ou apoio do próprio Estado.

(Dados retirados do site : http://www.canudos.portfolium.com.br/. Acessos à partir do dia 07/10/2008).



Biografia e análise de Antônio Vicente Mendes Maciel


Antonio Vicente Mendes Maciel (nome de batismo), conhecido como Antonio Conselheiro, nasceu na Vila de Campo Maior de Quixeramobim, provéncia do Ceará, em 13 de março de 1830, porém, outros autores datam seu nascimento em 1828, 1831 ou mesmo 1835.

Filho de Maria Joaquina de Jesus e de Vicente Mendes Maciel, ficou órfão de mãe aos seis anos de idade, vivendo assim posteriormente, uma conturbada relação com sua madrasta.

O pai, um sujeito violento e alcoólatra procurou dar-lhe a melhor formação intelectual possível mesmo vivendo no sertão, com a provável intenção de que o filho se tornasse padre, ensinando-lhe assim o português, o latim e o francês, fazendo com que Antonio adquirisse um maior volume de conhecimentos mesmo no meio rústico e humilde no qual vivia. Assim começava a suposta formação intelectual de Antonio Conselheiro, figura na qual posteriormente se tornaria líder de uma comunidade independente do poder do Estado denominada Arraial de Canudos.

Após a morte de seu pai em 5 de Abril de 1855, e a morte de sua madrasta (ano seguinte), Antonio assume desse modo a chefia da família, cuidando dos negócios e promovendo o casamento de suas irmãs. Casa-se também em 1857 em Quixeramobim, como consta o documento paroquial :

"Aos vinte e dois de maio de mil oitocentos e trinta baptizei e pus os Santos Oleos nesta matriz de Quixeramobim ao parvulo Antonio pardo nascido aos treze de março do mesmo ano supra, filho natural de Maria Joaquina: foram padrinhos, Gonçalo Nunes Leitão, e Maria Francisca de Paula. Do que, para constar, fiz este termo, em que me assinei. O Vigário, Domingos Álvaro Vieira". (Livro de Assentamentos de Batizados da Paróquia de Quixeramobim, Livro 11, fl. 221 v. Documento encontrado pelo pesquisador cearense Ismael Pordeus e publicado em "O Nordeste", 06.07.1949, Fortaleza. Apud CALASANS, 1997, p. 25) .

Conselheiro inicia uma vida nômade por cidades e empregos, trabalhando de negociante, balconista, advogado e professor, sendo assim um homem de muitos conhecimentos e principalmente com uma grande aproximação com o povo da região, justificando posteriormente o exarcebado número de seguidores que o acompanhariam pelas andanças religiosas no sertão nordestino.

Em 1861 já com dois filhos, muda-se para Ipu, no Ceará. Descobre então que sua esposa possui um relacionamento amoroso com um cabo da polícia local, e profundamente abatido, muda-se para a Fazenda Tamboril, dedicando-se integralmente aos magistérios. Muda-se mais tarde para Santa Quitéria no Ceará, e casa-se pela segunda vez. As frustrações de Antonio, as amorosas principalmente, podem ser consideradas como as de maior relevância para o mesmo ter se aprofundado no campo religioso e dar início a suas perigrinações e fundar Canudos.

Essa era basicamente sua vida. Vida pelegrina com cabelos e barba comprida, sandálias de couro, chapéu de palha, vestido sempre com uma túnica azul clara amarrada na cintura por um cordão com um crucifixo na ponta e um bastão na mão. Assim formava-se a imagem e o homem de Antonio Conselheiro, que conhecia cada palmo do sertão, seus segredos e mistérios. Por onde andava, fazia sermões, pregava o evangelho e dava conselhos. Gradativamente se transforma, de Peregrino a Beato, de Beato a Conselheiro, Antônio Conselheiro ou Santo Antônio dos Mares ou Santo Antônio Aparecido ou Bom Jesus Conselheiro, aprofunda o seu já grande conhecimento da Bíblia e sua fama começa a correr todo o interior do Nordeste e rapidamente vai formando em torno de si um número crescente de fiéis seguidores.

(Dados retirados do site : http://www.canudos.portfolium.com.br/. Acessos à partir do dia 07/10/2008).



Surgimento de Canudos na ausência do Estado

Pouco se sabia da Proclamação da República, grande parte do povo desconhecia os acontecimentos políticos e muito menos participavam dos mesmos. As áreas rurais eram dominadas por poderosos latifundiários que com grande influência política, econômica e social ("coronelismo"),limitavam e até mesmo excluíam os direitos e deveres de cidadania da população. Assim o problema do Nordeste não era apena a seca, mas sim, a cerca.

Aparecia então no coração da Bahia em meio aos morros da caatinga, às margens do Rio Vaza-Barris, a cidade ou arraial de Canudos, rebatizada posteriormente de Belo Monte. Chegaram algumas centenas de fiéis seguidores e se estabeleceram, iniciando assim, a construção de uma comunidade sertaneja com o uso coletivo da terra e um pequeno comércio. Não havia polícia, impostos, patrão e muito menos empregado. A moral do arraial de baseava na religião pregada por Antonio Conselheiro, proibindo-se a existência de tabernas, bebidas alcoólicas (água-ardente) e a prostituição. A Igreja de Santo Antônio e a praça eram os principais símbolos da cidade e como centro espiritual e político da comunidade, que crescia também pelas arrecadações que eram arrecadadas em diversos pontos do estados por homens de confiança de Conselheiro como José Beatinho, Pedrão, José Venâncio e Manoel Ciriaco.

Porém Antônio Conselheiro não "governava" sozinho, e tinha seus "ministros e assessores" Contava com a colaboração de antigos moradores e comerciantes como Antônio Mota, já tinham ali também pequenos pedaços de terra. Além dele, Joaquim Macambira também podia ser considerado um dos homens de confiança de Conselheiro, pois era quem tratava dos contatos comerciais externos da comunidade devido ao seu bom relacionamento com as pessoas das redondezas. Antônio Vilanova era o de maior importância e influência dentre esses homens, atuando da economia canudense e também como uma espécie de "juíz de paz". Nos conflitos armados, fazia parte do núcleo dirigente das operações militares, e sob sua guarda ficavam as armas e as munições.

Antônio Conselheiro dava grande importância na defesa do arraial, pois sendo anti-republicano, sabia dos riscos que poderia correr, enfrentado conflitos armados com o Exército. Ordenou a construção de trincheiras como obras primordiais da comunidade, e em tempos de paz, a comunidade, e em tempos de paz, a segurança da cidade e a defesa pessoal de Conselheiro era atribuição da Guarda Católica (ou Companhia de Jesus), formada por 600 homens uniformizados escolhidos entre os melhores para a luta e sob a chefia de João Abade, "o comandante da rua" ou o "chefe do Povo".

Os negros escravos constituíam grande parcela da população, encontrando em Canudos a alforria e a liberdade. Era grande também a presença dos índios Kaimbé e Kiriri, povos de influências marcantes na cultura e nos hábitos sertanejos. Conselheiro fundou uma escola com professores, e construiu uma cadeia que, segundo o Deputado César Zama, os delitos leves eram punidos pelos modos de Conselheiro, e aqueles mais graves ele entregava para as autoridades da comarca. O padre Vicente Sabino do Cumbe freqüentemente visitava o Arraial e promovia batizados e casamentos, muitos deles já consumados na prática. O sertanejo então tinha encontrado uma vida digna e construía a sua e as demais dignidades. Honório Vilanova, sobrevivente de Canudos e irmão de Antônio Vilanova, um dos principais lideres conselheiristas, declarou ao escritor Nertan Macedo:

"Grande era a Canudos do meu tempo. Quem tinha roça, tratava da roça na beira do rio. Quem tinha gado, tratava do gado. Quem tinha mulher e filhos, tratava da mulher e dos filhos. Quem gostava de rezar, ia rezar. De tudo se tratava, porque a nenhum pertencia e era de todos, pequenos e grandes, na regra ensinada pelo Peregrino". (MACEDO, Nertan. Memorial de Vilanova. Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1964)

Nesse ritmo de progresso, Canudos virou uma lenda em todo o Nordeste. Em quatro anos tornou-se a 2ª maior cidade da Bahia com mais de 25 mil habitantes, atrás de Salvador que possuía 200 mil habitantes na época. Inúmeros povoados ficaram praticamente desabitados, pois trabalhadores abandonavam as grandes propriedades rurais, desorganizando a produção e afetando seriamente toda a economia da região. A elite agrária nordestina estava apavorada e não tardaria a articular uma reação, principalmente reação da força do Governo da República, que o terceiro de três confrontos, derrubaria Canudos e exterminaria praticamente toda sua população.

O grande "trunfo" de Canudos foi ter se erguido e surgido pela própria força, pelo seu próprio povo. Suas ruelas e becos estreitos formavam grandes corredores e labirintos. As casas na maioria de "pau-a-pique" e taipa se multiplicavam de forma desordenada por grandes mutirões diante do grande fluxo de pessoas que chegavam buscando um lar, comida, água, trabalho, e a salvação de uma vida tão miserável.

Talvez por ter sido construída pelas mãos dos próprios sertanejos, guiados pela "paternidade" de Antônio Conselheiro, fora encontrada tamanha resistência pelo Exército Republicano nos combates de invasão à cidade. Pode-se dizer que ali existia um "patriotismo canudense" muito forte, e para os sertanejos, o ato de defender Canudos era o ato de defender a própria vida.

Analisando o referido contexto, percebe-se que Antônio Conselheiro não controlava as atividade do arraial sozinho e dividia os "setores" da cidade por homens de sua confiança, não havendo eleição. Canudos desse modo não poderia ser considerada uma democracia, pois seus cidadãos não escolhiam ou votavam em seus "políticos", mas participavam de maneira fundamental na construção do seu próprio "Estado", ou seja, o conceito Welfare State em Canudos ocorria da maneira inversa, porque era o povo que criava seu próprio estado de bem estar social, e não o "Estado".

O conceito de "Estado" ou governo em Canudos poderia ser trocado pela palavra liderança. Liderança de um homem apoiado por seus confiáveis juntos com uma população até então ausentes do acolhimento das obrigações e direitos oferecidos pela República, fundaram seu próprio "país", cidade, "Estado", ou melhor, fundaram sua própria comunidade. Poderia então Canudos ter sido um experimento comunista autônomo dentro do Brasil? Não, pois como já foi explicitado, o arraial não possuía uma massa trabalhadora assalariada dependente do "Estado", mas sim um "Estado" dependente de seus trabalhadores subsistenciais.

(Dados retirados do site : http://www.canudos.portfolium.com.br/. Acessos à partir do dia 07/10/2008).

Objetivos



Em relevância ao tema abordado, os principais objetivos desse trabalho são:


- Destacar a biografia e analisar o perfil ideológico, moral e político de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro;


- Abordar a criação da cidade de Canudos e suas estruturas políticas, sociais e religiosas juntamente ao contexto e aos fatos históricos da época;


- Relacionar a ausência das atuações do Estado com o surgimento de Canudos;



Métodos:


- Estudo e análise da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha;


- Artigos Acadêmicos:

Antônio Conselheiro, profeta do sertão?

Vicente Dobroruka

Mestre em História (PUC-RJ)

Professor de História Antiga, Universidade de Brasília


Bibliografia



- CUNHA, E.
1939
Canudos: Diário de uma expedição (1897), Rio de Janeiro, José Olympio.

1975 Caderneta de campo (1897), São Paulo, Brasília, Cultrix, INL.

1985 Os sertões: Campanha de Canudos (1902), São Paulo, Brasiliense

1996 Correspondência de Euclides da Cunha, org. de GALOTTI, O. e GALVÃO, W.N., São Paulo, Edusp.



- Portfolium Laboratório de Imagens. Bello Monte. Disponível em : http://www.canudos.portfolium.com.br/ Acesso em 01/12/2008



- DOBRORUKA, Antônio. Antônio Conselheiro, profeta do sertão?.Rio de Janeiro: PUC-RJ. Professor de História Antiga, Universidade de Brasília



Um comentário:

Anônimo disse...

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Ainda há esperança. Que venham os futuros líderes deste país...

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