domingo, 3 de abril de 2011

USP: ações da reitoria provocam críticas

Mais de um ano após ganhar uma nova gestão, a Universidade de São Paulo (USP) passa por um momento de conflitos internos. Algumas medidas polêmicas adotadas pela reitoria estão gerando o questionamento de alunos, professores e funcionários, que se dizem insatisfeitos com a instituição.

Filipe Araújo/AE
Estudantes preparam faixas para protesto contra mudança no vestibular

























Os principais projetos da reitoria são os maiores alvos de discussão. O reitor da USP, João Grandino Rodas, afirma que só pode tomar decisões após os pareceres dos órgãos colegiados. "Não existindo decisão pura e simples do reitor, não é possível autoritarismo por parte dele", afirma o reitor. (mais informações nesta página).
Rodas foi eleito no fim de 2009, em uma eleição que ocorreu sob protestos e provocou um debate interno. Segundo colocado da lista tríplice que é enviada para o governador do Estado - na época, José Serra (PSDB) -, Rodas foi escolhido por ser, na avaliação do governo, o mais indicado para apaziguar os conflitos na universidade.
A última gestão, da ex-reitora Suely Vilela, havia acirrado os ânimos de alunos e funcionários, culminando em greves longas e na ocupação da reitoria em 2007, por 50 dias. Foi durante essa administração que a polícia entrou em conflito com estudantes e servidores pela primeira vez desde o regime militar.
Reforma. Na gestão Rodas, um dos casos mais debatidos é a reforma da Cidade Universitária, que deve custar cerca de R$ 60 milhões e prevê a construção de novos espaços. O projeto será financiado com o excedente no orçamento da instituição, baseado no aumento da arrecadação estadual - a verba das três universidades estaduais, USP, Unicamp e Unesp, representa 9,57% da arrecadação do ICMS.
No lugar dos "barracões", por exemplo, a USP pretende construir um complexo de 70 mil m² para abrigar atividades administrativas, docentes e de pesquisa, além de espaços dedicados à internacionalização da universidade. Como o Estado mostrou, as obras provocaram a transferência de trabalhadores para locais distantes da zona oeste, onde fica a Cidade Universitária, como Santo Amaro, na zona sul. "Estamos todos tristes e com medo de sermos transferidos", afirma uma funcionária da reitoria que prefere não se identificar.
Questionamento. Na semana passada, uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo reuniu cerca de mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários. O debate foi convocado pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL). A intenção era discutir a atual situação da USP e apresentar uma representação que seria protocolada no Ministério Público, questionando a reitoria sobre a compra de imóveis fora do câmpus.
Segundo o documento, a USP adquiriu alguns imóveis - como um terreno na região da Consolação, de R$ 7,4 milhões, por exemplo. A reitoria seria notificada do procedimento. Como representante da USP, compareceu o coordenador de Relações Institucionais, Wanderley Messias. Ele deixou a audiência sem se pronunciar, após ser ofendido por uma funcionária e um estudante.
A discussão na Alesp também abordou o relatório de um grupo de professores da USP que propõe o corte de 330 vagas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), a USP Leste, e a possível extinção da graduação de Obstetrícia, que seria incorporada à Enfermagem. Desde a segunda quinzena do mês, estudantes e professores têm se mobilizado para defender o curso.
Discussão. Ao lado de algumas medidas tidas como impopulares, a reitoria também enfrenta alguns desafios antigos da universidade. A relação com os funcionários é historicamente tensa, com um passado de paralisações e greves. Às vésperas de um novo dissídio, os funcionários criticam a demissão, em 5 de janeiro, de 271 aposentados na ativa. Na época, a USP divulgou um comunicado afirmando, entre outras considerações, que a medida permitiria a renovação do quadro de funcionários. "Existe um clima de insegurança entre os servidores. É um descontentamento como nunca vi", afirma um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno Carvalho.
Os funcionários demitidos afirmam que foram pegos de surpresa. "Não esperava uma atitude dessas da reitoria", afirma Vera Soares, de 52 anos, que faz parte do grupo de servidores.
A Associação dos Docentes da USP (Adusp) também discorda de algumas medidas da administração. "Os recursos são distribuídos de forma antidemocrática", opina o presidente da entidade, João Zanetic.
No entanto, medidas da atual gestão, como a criação das reuniões temáticas do Conselho Universitário e a reformulação dos cursos noturnos, por exemplo, têm agradado bastante. "O professor Rodas é muito bem preparado e experiente. Precisamos ter eficiência na administração e a reitoria tem mostrado isso", afirma o diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP de Ribeirão Preto, Sigismundo Bialoskorski Neto.

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''Reitor não tem como ser autoritário''

Rodas diz que só pode tomar decisões após os pareceres dos órgãos colegiados e, por isso, não trabalho sozinho.

ENTREVISTA - João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo
O reitor da USP, João Grandino Rodas, afirma que no primeiro ano de sua gestão foram iniciados o planejamento e a implementação de projetos em todos os câmpus. Diz também que ele e os demais dirigentes continuam abertos ao diálogo. Abaixo, a entrevista que ele concedeu ao Estado, por e-mail, sobre seu primeiro ano à frente da USP.
Quando o sr. assumiu, em janeiro de 2010, havia um histórico de descontentamento na USP de professores, alunos e funcionários. O sr. acha que está conseguindo apaziguar os ânimos?
A grande maioria que compõe a USP prefere o silêncio, enquanto uma minoria, ideológica e politicamente ativa, tendo à frente os mesmos dirigentes desde a década de 60, promove anualmente paralisações e invasões, sem se preocupar com os princípios fundamentais do Estado de Direito. O apaziguamento das relações depende da ação de alunos, professores e funcionários e não apenas dos dirigentes centrais da universidade. Nos últimos anos, a estratégia dos ativistas tem sido imputar ao reitor de plantão a pecha de autoritário e todas as mazelas da USP, tentando desmoralizar o modelo vigente de universidade e da própria sociedade. Para eles, qualquer meio é justificável para alcançar o fim. Mas nada justifica o vandalismo, o impedimento do direito de ir e vir, as ofensas pessoais e os constrangimentos, vindos de uma minoria que está em patamares acadêmicos e salariais absolutamente acima da média geral dos paulistas e dos brasileiros.
Qual o balanço que o senhor faz do primeiro ano de gestão?
No que tange à infraestrutura, estão sendo promovidas a revitalização do câmpus de São Paulo e de Lorena, este para que se torne um polo de engenharia no Estado e no Brasil, e a implementação de um sistema que integre todos os câmpus em rede. Quanto à pesquisa, a universidade está investindo R$ 50 milhões em um projeto de apoio aos núcleos. No campo da extensão e da cultura, destacaria a implantação da Praça dos Museus, com a construção de novos edifícios para os museus de Arqueologia e Etnologia, de Zoologia e de Ciências. Brevemente, será iniciada a construção do Centro de Convenções. Em relação à internacionalização, crucial para a melhora da USP nos rankings, está sendo implementado o Centro de Difusão Internacional e a moradia estudantil para estrangeiros. Quanto aos recursos humanos, estão em estudo novos projetos de carreira, tanto para docentes quanto para os funcionários técnico-administrativos. Também estuda-se a melhora dos benefícios que possibilitem a permanência de alunos com necessidades socioeconômicas.
Por que certas medidas da reitoria despertam tanta impopularidade? Como vê as críticas de autoritarismo?
O reitor somente pode tomar decisões após os pareceres dos órgãos colegiados. Assim, não existindo decisão pura e simples do reitor, não é possível autoritarismo por parte dele. É curioso: quando se trata de uma decisão considerada aceitável, publica-se: "A USP decidiu ...". Quando se quer atacar uma decisão, escreve-se: "O reitor mandou..." Mudanças normalmente são incômodas e podem servir até mesmo para causar contestações. Contudo, se a USP deseja trilhar seu caminho de excelência, elas são absolutamente necessárias.
Por que ocorreu a demissão de funcionários aposentados?
O desligamento de funcionários aposentados pelo INSS que continuavam na ativa foi legal e ético. A legislação e a jurisprudência brasileiras permitem o desligamento nos casos efetuados, desde que recebam aviso prévio, 13.º salário e férias, além de 40% do depósito do FGTS. Ademais, todos receberam outros apoios, como a continuidade de utilização de serviços médicos. A boa administração impõe a renovação do quadro funcional, bem como a passagem do conhecimento aos funcionários mais jovens.
Qual a opinião do sr. sobre as polêmicas na USP Leste (EACH)?

Há algum tempo a própria EACH discute internamente a atualização de seus cursos, pois cada unidade da USP possui relativa autonomia. Quanto à faculdade enviar suas posições consensuais, elas serão examinadas pelos órgãos centrais para a tomada de decisão.
A FIA (fundação privada criada por professores da Faculdade de Economia e Administração da USP) anunciou o primeiro curso de graduação pago. O senhor é a favor do projeto?
Prefiro não me pronunciar sobre instituição que não faz parte da USP.
Há também um grande questionamento em torno da saída de departamentos do câmpus, das obras anunciadas e da compra de terrenos. O que justifica essas medidas?
Há décadas que o câmpus central da USP precisa ser revitalizado, pois infraestruturas, dentre as quais a predial, são fundamentais para o cumprimento dos fins da universidade. Obviamente, era necessário alojar condignamente os órgãos que se encontravam em local deteriorado. Foram feitas aquisições dentro das necessidades e conforme todos os parâmetros da administração pública. Quase todos voltarão assim que os prédios novos estiverem terminados. A exceção fica por conta do escritório da USP no Centro Empresarial (em Santo Amaro), pois todo órgão de porte deve possuir local resguardado, que assegure seus serviços computacionais essenciais.
E o diálogo com os segmentos da USP, como fica?
No primeiro ano da administração foi dada ênfase ao diálogo direto, contínuo, transparente e também responsável. Responsável quer dizer com pautas claras, interlocutores definidos e prazos. Eu e as demais autoridades centrais continuamos abertos ao diálogo com os pressupostos acima. Não é aceitável o pseudodiálogo que se arrasta, com pautas que aumentam assim que as primeiras reivindicações são aceitas, com interlocutores que mudam a cada dia e servem somente para afirmar, após semanas de conversa infrutífera, que a administração é infensa ao diálogo, justificando assim o uso da força bruta. 

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