Em debate organizado pelos estudantes no final de março, eles reclamaram de que os professores atuais se dedicam pouco à graduação, deixando por vezes as aulas para monitores ministrarem: "É muito ruim ver seu curso mal estruturado, e por que [os professores] se focam em fazer um curso bom fora daqui?", questionou uma aluna. O fato de o curso da FIA ter uma grade mais moderna, com disciplinas em inglês e ser em parte integral - o curso da FEA não tem esses recursos - também intriga os alunos.
Para o presidente da Adusp (Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo), professor João Zanetic, a criação de um curso pago por uma fundação ligada à USP "surpreendeu" a associação e caracteriza "conflito de interesses": "na minha avaliação há um claro conflito de interesses se professores da FEA montam uma graduação paga, inclusive no que se refere ao financiamento de uma universidade pública", disse.
Como exemplos desse "conflito de interesses", ele questiona o fato de a FIA se auto-intitular "a melhor escola de negócios do Brasil" e do curso apresentar vantagens que o da USP não tem: "por que os docentes não propuseram essas transformações [disciplinas em inglês e curso em período integral] na USP?", questionou.
Pelo fato de a fundação não ser vinculada à USP, o curso não precisa de autorização da instituição para funcionar. Segundo o professor Adalberto Fischmann, chefe do departamento de administração da FEA e coordenador de projetos da FIA, a USP e a FEA foram comunicados sobre o curso e o acharam positivo. O reitor da universidade, João Grandino Rodas, teria até dito que compraria ações do curso, caso fossem lançadas por IPO (Initial Public Offering).
"Ideologia retrógrada"
O coordenador de MBA internacional da FIA (responsável pela implantação da graduação) e professor da FEA-USP, James Wright, discorda do posicionamento da Adusp: ele não acha que haja conflito de interesses porque os professores do curso da FIA não são docentes da USP.Para Wright, as criticas são fruto de uma "ideologia retrógrada" da associação, que é contrária a fundações. "Querem [a Adusp] que a USP seja isolada da realidade empresarial. O objeto de pesquisa de administração são as empresas, é importante interagir com elas", disse, defendendo a FIA e sua graduação.
Quanto à afirmação dos estudantes da FEA-USP de que o curso esteja ruim, o professor discorda: "o curso da FEA e o da FGV-SP são os melhores do Brasil. Prova disso é que as empresas mais conceituadas do mundo vêm recrutar estudantes aqui. Agora, se tem coisas que os alunos querem, deveriam pedir mais. A teoria administrativa explica isso: quando o cliente é exigente, a qualidade melhora. Sempre digo que eles precisam exigir mais", disse.
Estudantes são resistentes a mudanças
De acordo com o professor Fischmann, não é a maioria dos alunos da FEA que criticam a nova graduação da fundação, mas "uma massa querendo fazer barulho". Ele diz desconhecer o fato de monitores darem aula no lugar de docentes e explica que o monitor só auxilia o professor nas aulas: "Se houver distorção desse papel, está errado, e ele deve ser punido".Dos 80 docentes da graduação da FEA, cerca de 50 estão também na fundação, trabalhando como pesquisadores, diretores ou ministrando aulas. Fischmann afirma que as atividades na FIA não atrapalham as atribuições na USP: "Muito pelo contrário, esses professores são os mais produtivos, os que tem as melhores pontuações, e que mais participam de congressos no Brasil e no exterior".
O professor salienta que o curso da FIA não pode ser comparado ao da FEA por ter menos alunos e ser mais experimental e que, pela dinâmica dos alunos da USP, a implantação de matérias como as da FIA sofreriam resistência da maioria deles. Ele explica que os estudantes, ao começarem a estagiar ou trabalhar, preferem, no geral, disciplinas não "tão puxadas". Por conta disso, o curso está passando por uma revisão curricular, para se aproximar às necessidades do mercado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário