Resenha: Educação ambiental e políticas socioambientais.
Leonardo Spicacci Campos
Sustentabilidade, Tecnologia e Políticas Públicas
Prof.Dr. Manoel Cabral de Castro
Resenha
Contribuições da educação ambiental para as políticas socioambientais
O destaque recebido pelos grandes problemas ambientais globais nos meios de comunicação, principalmente a partir dos anos 90, tornou centrais no debate público os temas relacionados às questões ambientais. Na área da educação, isso se manifestou de forma clara, com a inclusão da educação ambiental como eixo transversal ou mesmo como disciplina no ensino básico. Multiplicaram-se também os programas de conscientização ambiental oferecidos por empresas a seus funcionários e, junto a entidades do Terceiro Setor, à sociedade civil em geral. Diante dessa situação de claro crescimento, ficam algumas perguntas: que tipo de concepção e valores estão sendo transmitidos nesse tipo de programa? Quais são suas principais falhas? E por fim: é possível dar um passo adiante?
É importante compreender, primeiramente, que as concepções de educação ambiental estão intimamente relacionadas às de sustentabilidade. E assim como este termo foi, desde sua origem, cada vez mais apropriado e adaptado à lógica do sistema, a educação ambiental foi se tornando um conceito mais estreito, sendo hoje entendida, na maior parte dos casos, basicamente como campanhas ou conteúdos escolares isolados, com pouca ou nenhuma integração com a realidade vivida pelo estudante ou cidadão de forma geral. Encara-se o desenvolvimento sustentável como a simples adoção de medidas pontuais na tentativa de reverter os danos causados pelo modelo econômico, sem considerar mudanças mais amplas em todo o sistema e nos detalhes mais elementares da vida cotidiana do cidadão.
Essa falta de integração com as questões globais de forma mais geral é a grande crítica de Moacir Gadotti a Hutchison e sua “educação ecológica” que, segundo ele, não contemplaria as questões de justiça social, apesar de apresentar ideias inovadoras e fundamentais para a “pedagogia da Terra”, como o biocentrismo e a importância central do componente ecológico na educação. Para Gadotti, porém, é necessário ir mais além, à ecoeducação, que teria como essência a ética, tendo a cidadania e a democracia como componentes principais. O grande diferencial da concepção de ecoeducação é a relação de organicidade que ela traz: o educando, e também o educador, já que se pressupõe uma relação horizontal entre ambos, veem-se como partes integrantes do tempo e do espaço onde o processo educativo ocorre (Gadotti, 2000:80). Trata-se de ampliar a concepção de educação para além da heteroformação (centrada na espécie), para abranger também a autoformação (centrada no interior do indivíduo) e a ecoformação (voltada para o meio ambiente, a etapa mais difícil e distante das três).
Não se trata, aqui, de negar a educação ambiental, mas sim de enxergá-la como um componente essencial de uma nova concepção de educação, orgânica, integrada e voltada para a conquista de um novo modelo de desenvolvimento para a humanidade no século XXI. A centralidade da educação nesse processo parece já ter se tornado um consenso: “... a preservação do meio ambiente depende uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação” (Gadotti, 2000:79). No entanto, para que essa mudança seja efetiva, é necessário que seja vivida; se não, torna-se algo não só sem sentido, como também hipócrita. E, claro, esse processo não pode ficar restrito ao ambiente escolar, mas deve inserir-se como uma nova filosofia nas relações humanas dentro das diversas instituições sociais. É somente desse modo que a ecoeducação pode se tornar uma poderosa ferramenta para a sustentação das sociedades humanas no planeta.
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