EXAME foi ver de perto as obras na Fernão Dias, rodovia leiloada à iniciativa privada no ano passado pelo modelo de pedágio barato. Há sinais de melhoria - mas não a ponto de reverter os problemas estruturais da estrada
Estima-se que pelos 562 quilômetros da Fernão Dias, rodovia que liga São Paulo a Belo Horizonte, circulem diariamente 18% do PIB brasileiro. De acordo com uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, a estrada é a terceira do país em valor de carga transportada, perdendo apenas para dois trechos da BR-116: a via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, e a extensão da rodovia que serve o sul do Brasil. Apesar dessa importância, até bem pouco tempo atrás a Fernão Dias estava relegada ao abandono. A riqueza circulava sobre buracos - e, não raramente, parte dela acabava ali dentro. A estrada é também considerada perigosa, com média de 100 acidentes por mês apenas no trecho paulista. Desde outubro, quando o governo federal concedeu a operadores privados 2 600 quilômetros de estradas, há uma promessa de que o tempo dos tombamentos na Fernão Dias - e nas demais rodovias concedidas - está com os dias contados. A OHL, concessionária espanhola que arrematou cinco dos sete lotes leiloados, começará a administrar a estrada no dia 15 de agosto. A Fernão Dias foi justamente o lote obtido com o maior desconto na tarifa de pedágio: 65% sobre o preço mínimo indicado pelo governo. Por isso, a OHL deverá cobrar 8 reais do motorista que atravessar de carro as oito praças de pedágio previstas para o trajeto. Levando-se em conta o quilômetro rodado, o valor da tarifa equivalerá a 13% do que vigora hoje na rodovia dos Bandeirantes, considerada a melhor do país e concedida à iniciativa privada pelo governo paulista em 1998. Mas, à medida que a data de início da operação se aproxima, cresce uma dúvida que surgiu assim que foi anunciado o resultado do leilão: a Fernão Dias - privatizada num modelo que privilegiou o pedágio mais barato possível - se tornará uma estrada com qualidade à altura de sua importância?
Ainda é cedo para visualizar todo o potencial de melhora com a privatização. A OHL foi autorizada a iniciar obras na Fernão Dias há apenas quatro meses. Tem até meados de agosto para terminar uma primeira etapa de reparos básicos e receber da Agência Nacional de Transportes Terrestres permissão para iniciar a cobrança de pedágio. Depois, deve prosseguir nas melhorias: o compromisso é que 3,6 bilhões de reais sejam investidos na recuperação do corredor logístico nos seis primeiros dos 20 anos de concessão. Para conferir em que situação está a Fernão Dias, no dia 18 de junho EXAME percorreu 230 quilômetros da estrada, entre a capital paulista e a divisa com Minas Gerais. Nesse trajeto foram encontrados seis trechos com equipes trabalhando na sinalização e no pavimento. Em outras partes foi possível notar a recente intervenção da concessionária na pista - o asfalto era novo. Os primeiros sinais, portanto, são positivos.
Fonte: Exame
Nenhum comentário:
Postar um comentário