terça-feira, 12 de janeiro de 2010

DOIS ANOS DE EACH: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS A RESPEITO DO INGRESSO E PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ARTES CIÊNCIAS E HUMANIDADES

RELATÓRIO PARCIAL E FINAL DE PESQUISA
(referente ao período de fevereiro de 2007 a janeiro de 2008)

DOIS ANOS DE EACH: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS A RESPEITO DO INGRESSO E PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE


EDITAL
“ENSINAR COM PESQUISA”



Membros da equipe:
· Profa. Dra. Kimi Tomizaki (EACH-USP)– coordenadora
· Prof. Dr. Marcelo Ventura Freire (EACH-USP) – colaborador convidado
· André Stopa Rankin (aluno do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza) Bolsista do “Ensinar com pesquisa”
· Daniel Rondinelli Roquetti (aluno do curso de Gestão Ambiental) – Bolsista do “Ensinar com pesquisa”
· Rogério Sutilo (aluno do curso de Gestão Ambiental) - Bolsista do “Ensinar com pesquisa”
· Marcelo Araújo (Aluno do curso de Sistemas de Informação) – PIBIC SEM BOLSA
· Paulo Rosa Jr. (aluno do curso de Sistemas de Informação) – PIBIC SEM BOLSA


Janeiro/2008

1. Introdução

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo ou USP/LESTE oferece dez cursos de graduação (Ciências da Atividade Física, Gestão Ambiental, Gestão de Políticas Públicas, Gerontologia, Lazer e Turismo, Licenciatura em Ciências da Natureza, Marketing, Obstetrícia, Sistemas de Informação, Tecnologia Têxtil e Moda), nos períodos matutino, vespertino e noturno, nenhum dos cursos é de período integral e, a cada ano, ingressam em torno de mil alunos na Unidade.
O projeto político-pedagógico da EACH está fundado sobre o princípio da formação interdisciplinar, o que deveria ser garantido (i) pelo conjunto de disciplinas que compõem o chamado “Ciclo Básico”, que todos os alunos, independentemente do curso que escolheram, têm que cursar#; (ii) pela estrutura das grades curriculares de cada um dos cursos, fundadas no princípio da interdisciplinaridade e, finalmente, (iii) pela própria organização inovadora da unidade, cuja ausência de departamentos é um dos exemplos.
Este projeto de pesquisa nasceu do interesse em realizar uma pesquisa que pudesse dar informações mais precisas, detalhadas e aprofundadas a respeito do perfil dos alunos da EACH, bem como de sua percepção a respeito do projeto político-pedagógico desta Unidade.
Para tanto, acreditávamos que tal pesquisa deveria ir além da descrição dos dados sócio-econômicos disponibilizados publicamente pela FUVEST, por exemplo. A compreensão de como os alunos da EACH percebem, avaliam, criticam ou concordam com seu projeto, passa necessariamente por uma análise das características sócio-econômicas desses, mas relacionando tais dados com as experiências educativas mais amplas as quais esses jovens foram submetidos. Assim, para uma pesquisa deste caráter, muito pouco explicam os dados descritivos a respeito da situação sócio-econômica dos alunos se não pudermos relaciona-la com a educação familiar, escolar e associativa vivenciada por esses.
Entretanto, partimos do princípio que a primeira operação de pesquisa a ser realizada seria justamente a realização de um estudo detalhado dos dados quantitativos disponibilizados pela FUVEST, por meio dos quais traçamos um primeiro esboço do perfil sócio-econômico dos alunos da EACH. Tal coleta e organização dessas informações foram realizadas ao longo do primeiro semestre de 2007. A partir do segundo semestre deste mesmo ano, a equipe passou a contar com a preciosa participação do Prof. Dr. Marcelo Ventura Freire, estatístico, do curso de Marketing, o que possibilitou que analisássemos os dados de maneira mais precisa e detalhada.
No segundo semestre de 2007, realizamos a primeira qualitativa da pesquisa, com base em entrevistas semi-estruturadas (10 depoentes por curso, totalizando 100 entrevistas) tendo em vista coletar informações a respeito das experiências educativas pelas quais esses alunos passaram. Sendo assim, trata-se de uma entrevista de caráter biográfico, no qual o entrevistador, seguindo a ordem cronológica da vida dos entrevistados, busca informações detalhadas a respeito da sua origem familiar; tipo de organização familiar; características da educação familiar; experiência escolar (tipos de escolas, proposta pedagógica) até chegar à decisão de ingressar no ensino superior e os motivos que o direcionaram ao curso no qual se encontra na EACH, bem como sua avaliação dele e/ou qualquer intenção de abandonar ou se transferir de curso/universidade.
Nesse primeiro ano de projeto, o trabalho dos 5 alunos (3 deles bolsistas do projeto Ensinar com Pesquisa e 2 ligados ao PIBIC sem bolsa) se concentrou principalmente na constitiuição de uma descrição detalhada do perfil sócio-econômico dos alunos da EACH, que já aponta para algumas “tendências” no que tange à constituição das características sociais dos alunos dos seus dez cursos. Tais dados e análises preliminares foram apresentadas pelos cinco alunos envolvidos no projeto no SIICUSP 2008 (Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP).

No próximo ano, o projeto deveria continuar no sentido de realizar um processo de análise das entrevistas que já foram coletadas, entretanto, nenhum dos três alunos bolsistas do Projeto Ensinar com Pesquisa solicitou a renovação de suas respectivas bolsas porque resolveram realizar estágios remunerados em suas respectivas áreas de ensino. Sendo assim, o projeto acabou sendo encerrado nessa primeira etapa. Assim, o relatório que se segue constituirá tanto o relatório parcial quanto o relatório final e se não chega a concluir totalmente a pesquisa, lança algumas hipóteses e questões que poderão ser retomadas em momento oportuno, conforme foi combinado com os alunos envolvidos no projeto.

2. Apresentação do referencial teórico/analítico

Não há dúvida que a educação superior passou a fazer parte do rol de temas considerados prioritários e estratégicos para o futuro das nações: generalizou-se, nas últimas décadas, a convicção de que o desenvolvimento requer a ampliação constante dos níveis de escolaridade da população. Assim, o acesso ao ensino superior e a ampliação da rede de instituições de ensino têm constituído um dos temas principais do campo de pesquisa sobre educação no Brasil. Entretanto, mais do que isso, as Universidades do mundo todo, têm se interessado em conhecer melhor aqueles que estão em seu interior. Sendo assim, por razões diversas, as instituições de ensino superior têm sistematicamente investido em pesquisas acerca do perfil de suas populações estudantil, docente e administrativa. (Neves et al., 2006)
O interesse específico pelo perfil dos discentes está fundando na percepção de que um maior conhecimento a respeito dos alunos poderá garantir melhor qualidade de ensino para esta população. Mas, é preciso que se destaque que a construção deste perfil não pode estar baseada somente nos recursos econômicos dos alunos, é preciso que se considere também outros tipos de recursos, tais como os capitais cultural e social, que exercem forte influência na maneira como os alunos agem e reagem em relação às propostas pedagógicas das Universidades. Dito de outra forma, para além da discussão da ampliação do acesso ao ensino superior, sobretudo público, necessitamos de pesquisas que precisem de forma minuciosa de que maneira aqueles que chegam às Universidades Públicas conseguem ou não utilizar as oportunidades oferecidas para sua formação, e se existe uma relação entre os modos de se experenciar a vida universitária e a origem social dos discentes.
Neste sentido, temos buscado, por meio da revisão bibliográfica e leituras construir um aporte teórico que permita à equipe relacionar o momento da entrada e os primeiros anos de permanência no ensino superior dos alunos entrevistados com o processo de socialização que eles vivenciaram. Nossa hipótese principal é que as experiências educacionais são capazes de produzir efeitos concretos na construção, redefinição ou transgressão sobre as fronteiras sociais e simbólicas que separam os grupos sociais, o que teria um forte reflexo sobre a vivência universitária.
Assim, baseando-nos, sobretudo, nos trabalhos de Pierre Bourdieu e seus colaboradores, entendemos que a educação oferecida pela família e por determinas instituições escolares determina a construção de uma determinada maneira de ver o mundo e de se ver no mundo em relação aos outros, o que se concretiza na constituição de valores, projetos de futuro, modalidades de relação com a escola, com a posição profissional e, sobretudo, na percepção do “espaço de possíveis”, ou seja, na interiorização dos “limites”, do que é ou não possível para cada um.
No que diz respeito ao funcionamento da escola brasileira, os estudiosos parecem ter alcançado um consenso em relação a pelo menos dois aspectos: (1) o Brasil apresenta um panorama de desigualdade de escolarização extremamente elevado, mesmo quando comparado a países com renda per capita próxima ou inferior; (2) o nível de escolarização alcançado pelos pais está diretamente relacionado com o desempenho escolar dos filhos. (ALMEIDA, 2002)
É importante destacar que, a permanência desta desigualdade educacional no Brasil está ligada diretamente ao fato de que nosso sistema de ensino está organizado em função da segregação econômica, visto que é dividido em duas redes: ensino público e privado. Assim, pelo menos no que diz respeito ao ensino fundamental e médio, os jovens dos grupos mais privilegiados em termos econômicos freqüentam escolas melhor organizadas, melhor equipadas, que dispõem de professores melhor pagos e, supõe-se, por conseqüência, melhor preparados e com condições privilegiadas para desenvolver seu trabalho pedagógico. De forma que o melhor desempenho de um determinado grupo de alunos, em geral medido em termos do alongamento da escolaridade (até o ensino superior público) ou do tipo de diploma obtido ao final desta, pode ser entendido com uma conseqüência do acesso ao ensino privado, que fica reservado somente às famílias que podem pagar por isso, contratando os serviços destas escolas.
Entretanto, este fenômeno precisa ser analisado de forma mais profunda, pois, se é verdade que a maior escolarização dos pais e das mães está em grande medida associada à sua situação econômica e a fortiori à sua capacidade de arcar com o custo das mensalidades cobradas pelas escolas privadas, é preciso que se considere também as diferenças em termos de capital cultural da família e, sobretudo, como tal capital se relaciona com a trajetória escolar dos filhos.
Dado que a EACH, em seus primeiros anos de funcionamento, tem recrutado uma porcentagem significativa do seu corpo docente entre alunos oriundos de escolas públicas (41,54%, em 2005), consideramos que este estudo de caso pode ser particularmente interessante para se ultrapassar as análises que discutem somente as barreiras do acesso ao ensino superior público no Brasil, avançando na discussão de como alunos com diferentes capitais culturais e sociais podem construir diferentes formas de perceber e agir na universidade, o que pode redundar em situações de sucesso ou fracasso escolar.
De acordo com Pierre Bourdieu, o espaço social é um espaço de lutas e sua teoria para pensar tais lutas reserva uma importância fundamental às estruturas simbólicas. Neste sentido, a posição social dos indivíduos nesse espaço não é dada apenas nem majoritariamente pela dimensão material. A dimensão simbólica, baseada nos capitais culturais e sociais dos indivíduos, tem força suficiente para complexificar a ordenação social condicionada somente pelo capital financeiro ou material. (Bourdieu, 1997)
Portanto, poderíamos dizer que o conceito de capital cultural é uma ferramenta para se apreender a dimensão simbólica da luta entre os diferentes grupos sociais. Pensado na analogia com a noção marxista de capital, o capital cultural nos permite levar em consideração outros tipos de patrimônio (como o acesso a determinados padrões artísticos e culturais, por exemplo) que podem ser pensados como recursos passíveis de serem investidos na obtenção de outros recursos (como o sucesso escolar). (Bourdieu, 1998b)
Assim, a compreensão das diferentes reações dos alunos da EACH em relação ao seu ingresso na Universidade, o sucesso ou fracasso em determinadas disciplinas, bem como a maneira como avaliam seus cursos e o Ciclo Básico tem que ser buscada na trajetória escolar e familiar destes alunos. De forma que, não basta somente determinar qual é a renda das famílias dos discentes ou se estes são oriundos de escolas públicas ou privadas, mas é preciso relacionar tais dados com o tipo de escola que freqüentaram, bem como com as expectativas familiares e suas próprias em relação ao acesso à Universidade e ao seu futuro profissional e também na trajetória da sua família, que pode ser marcada pela estabilidade, ascendência ou declínio social.

3. A apresentação das propostas de formação dos cursos e do perfil sócio-econômico dos alunos da EACH

O texto que se segue foi elaborado tendo em vista apresentar as propostas de formação de cada um dos cursos da EACH, de acordo com o próprio projeto político-pedagógico dessa unidade da USP e dos formuladores/idealizadores dos cursos oferecidos.
Além disso, apresentaremos também os principais dados de caracterização sócio-econômica do corpo discente de cada curso, apontando as tendências que parecem começar a se consolidarem no que tange ao público recrutado para os cursos da EACH.


LEIA O RELATÓRIO COMPLETO EM:
http://scholar.google.com.br/scholar/relatorioparcialeach20072008

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