domingo, 31 de janeiro de 2010

FESB 2009 - CINTHIA


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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FIM DA ESCRAVIDÃO E FIM DO IMPÉRIO. A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA?

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Prof. Dr. José Renato de Campos Araújo

Formação Econômica e Social do Brasil

Aluna Cinthia Granja Silva - 6409372

São Paulo, 16 de dezembro de 2009.

Introdução

No século XV, os países europeus tinham suas próprias fontes de renda, mas Portugal era um país pequeno, que vivia da pesca e, por isso, não era muito rico. O país começa a investir em tecnologias marítimas e acaba se tornando pioneiro na arte da navegação devido à sua localização estratégica,ao seu tamanho reduzido que tinha acabava expulsar moradores, às tecnologias marítimas existentes (como a bússola) e à grande rentabilidade que uma colônia gerava na época. A partir de então se tornou o primeiro Império Global, com territórios em 4 continentes.

Portugal colonizou países africanos, orientais e da América e, em 1500, Pedro Álvares Cabral chegou à Pindorama (nome indígena), que foi nomeada pelos portugueses como Ilha de Vera Cruz e, depois de mais seis nomes diferentes ficou conhecida como Brasil, já em 1527.

Inicialmente os índios encontrados no Brasil foram escravizados, mas como conheciam profundamente a terra que habitavam, resistiam na maioria das vezes e, por esse motivo, os portugueses acharam mais fácil e mais lucrativo trazer povos que não conheciam o país e, já que Portugal possui várias colônias no Continente Africano, optaram por seus negros.

A miscigenação ocorrida entre as raças e culturas resultou num povo com cultura mestiça que não se define nem como branco, nem como negro, nemcomo índio, mas apenas como brasileiro. Essa falta de identificação com um só povo ou com uma única raça tornou o brasileiro inseguro e dependente de influências externas.

O presente trabalho visa elucidar a partir da visão de quatro grandes autores clássicos brasileiros – Raymundo Faoro, Celso Furtado, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda – os problemas brasileiros atuais a partir de uma visão da formação do país e algumas de suas interpretações e analizará se houveram mudanças profundas no país a partir do fim do Império e da escravidão.

Desenvolvimento

Segundo Caio Prado Júnior em seu livro Formação do Brasil Contemporâneo, a colonização portuguesa deixou marcas e heranças negativas, mas a culpa não é apenas dos colonizadores e sim da situação e do momento histórico. Portugal, na época, fazia parte do movimento de contra reforma, que visava a um catolicismo extremamente rigoroso, com doutrinas rígidas e conservadoras.

Caio Pardo Júnior derivou de uma escola marxista e, por isso estudava as bases econômicas e o método de materialismo histórico, ou seja, estudava a economia e o meio que o povo habitava. As condições da época e o clima tropical favoreceram e levaram o Brasil a ser uma colônia de exploração com latifúndios, monoculturas e escravidão.

Para o autor o fato de o clima do país ser tropical era determinante para a criação de uma cultura diferente da de países com clima temperado, pois com o calor e com as chuvas torrenciais do Brasil a população seria naturalmente mais preguiçosa.

A escravização dos negros africanos começou com a lavoura da cana-de-açúcar em latifúndios e, como eles não conheciam a terra para onde eram trazidos, ao contrario dos índios brasileiros, não tinham forças suficientes para contra-atacar. Para poder se adaptar ao novo estilo de vida, os negros tentam resgatar suas tradições africanas, para assim, se sentirem em casa. Estima-se que cerca de 10 milhões de negros tenham sido trazidos ao Brasil nessa época com o objetivo de escravização.

A formação do Estado moderno foi feita sobre os moldes do escravismo e do latifúndio monocultor, se tornando mercantilista, absolutista e monárquico, com a presença de uma burguesia recém formada no país e num contexto mundial de renascimento.

O pacto colonial previa que a colônia deveria fornecer produtos primários e a metrópole os manufaturados, sendo que a primeira só poderia comercializar com a segunda.

Os senhores de engenho eram os representantes legais de Portugal no Brasil e, cediam partes de suas terras para os “sesmarias” que a cultivavam comapenas um tipo de produto.

No Brasil Colonial havia divisões dentro da sociedade, como castas, compostas por escravos, homens livres pobres (não podiam votar) e senhores de terra e, mesmo com a miscigenação entre raças, os filhos mestiços não eram aceitos pela sociedade.

O autor Gilberto Freyre faz uma descrição etnográfica sobre o negro escravizado no Brasil e, por ser nordestino (de Pernambuco) ele enfatiza o nordeste, onde houve grande importância na historia da escravização.

O mesmo acreditava que o negro, assim como todas as outras raças existentes no Brasil, foram importantes para a criação de uma cultura única, a cultura brasileira. Pois, o brasileiro é um mestiço, é a mistura do negro com o branco com o índio.

A idéia de evolucionismo racial, que afirmava a raça branca como superior a raça negra, era aceita como verdade absoluta na época e foi combatida por Freyre, que acreditava que a raça não tornava ninguém superior, mas sim a cultura. Ele fora influenciado pelo famoso antropólogo alemão Franz Boas, conhecido pela sua teoria de culturalismo.

Freyre também acreditava na democracia racial no Brasil, ou seja, a convivência harmônica entre as raças, fato que nunca aconteceu verdadeiramente, já a convivência entre as raças tinha grande influencia ditatorial e, a harmonia só existia devido as rígidas leis da época.

Já Sergio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil acredita que a democracia no Brasil ocorre ao acaso, a partir do personalismo, do patrimonialismo e da repulsa ao trabalho criada pelo forte bacharelismo. A justificativa desse fato dada pelo autor é a transferência mal planejada do meio rural para o meio urbano.

Ter um diploma era de extrema importância, dava status aos bacharelados, que viviam do ócio produtivo. Como o trabalho não era valorizado, o bacharelismo se tornou uma praga e se alastrou pelo Brasil. Todos que podiam, tiravam um diploma para não precisar trabalhar demasiadamente.

O assunto mais discutido sobre o livro de Sergio Buarque de Holanda é sobre o homem cordial, que retrata o homem brasileiro através da cordialidade, da submissão e do tradicional “jeitinho brasileiro”. A cordialidade não gera princípios, apenas propicia ambiente para o jeitinho.

Sergio Buarque deixa transparecer uma grande preocupação com o futuro de seu país, que foi privado de democracia e de desenvolvimento por tantos longos anos.

O autor, ao contrário de Gilberto Freyre, culpa os portugueses colonizadores pela preguiça herdade pelos brasileiros na relação do ócio e do trabalho. O brasileiro se acomoda tanto, que acaba deixando de lado o desenvolvimento econômico e social do país.

Já Raymundo Faoro em seu livro Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro aponta a formação da corrupção, da burocracia excessiva e do patrimonialismo no Império Brasileiro e, essas características foram cultivadas e são ainda mantidas no país. O autor tem uma visão Weberiana do capitalismo brasileiro ao dizer que ele foi politicamente orientado pela metrópole, ou seja, que foi orientado pelo Estado e seus interesses particulares e não naturalmente orientado pelo mercado como Marx Weber idealizava para a concretização de um capitalismo avançado.

O autor Celso Furtado acredita que o subdesenvolvimento não é uma etapa para se alcançar o desenvolvimento, mas é uma forma de organização capitalista onde alguns países devem ser desenvolvidos e ricos, atuando como as antigas metrópoles e outros devem servir como colônias. Essa conclusão é tomada a partir da premissa de que os países hoje subdesenvolvidos foram formados através da industrialização tardia, que gerou dependência financeira externa.

Furtado acredita que a única maneira de países subdesenvolvidos como o Brasil deixarem essa posição submissa seria a intervenção estatal visando o redirecionamento da política econômica e social.

Conclusão

De acordo com os autores acima citados, a democracia brasileira foi formada a partir de uma estrutura latifundiária e monocultora, escravista, patrimonialista, com uma burguesia bacharelista que não se preocupava em trabalhar para melhorar o país e apenas dava ordens aos não diplomados.

Esses moldes foram mantidos por séculos e, mesmo com o fim do império e com a abolição total da escravidão, eles se perpetuam até hoje através do preconceito contra negros e mestiços, através da supervalorização dos diplomados e através do forte patrimonialismo.

O racismo atualmente é considerado crime e, através de muita discussão e educação da população ele vem diminuindo a taxas pouco significativas.

A supervalorização dos bacharelados ainda é forte e a tendência é de perpetuação, já que o trabalho ainda é desvalorizado pela maioria, que prefere estudar e se diplomar para poder se manter através do “ócio produtivo”.

E, o patrimonialismo é muitíssimo forte no Brasil e se mostra através da burocracia exacerbada e da corrupção descarada de muitos políticos.

Esses três fatores críticos da cultura brasileira devem ser combatidos com as idéias de Celso Furtado, que propõe uma mudança política estrutural, que visa o possível desenvolvimento do redirecionamento da política econômica e social do Brasil.

O fim da escravidão e o fim do império não acarretaram na modernização total brasileira. O bacharelismo ainda é predominante para se obter status social, mas não se pode negar que houve sim avanços, como a já citada diminuição do racismo explicito e a fiscalização de políticos através de instituições e grupos organizados, que visam à redução da cultura patrimonialista.

Portanto, acredito que o país está direcionado de maneira correta, basta apenas maior conscientização da população sobre os problemas do Brasil, para que unidos possamos transformá-lo em um país desenvolvido e para que também possamos nos desenvolver de forma a aceitar a nossa cultura mestiça como ela é.

Bibliografia

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro. São Paulo: Editora Globo. 2001

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura. 1961

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1999

PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora. Brasiliense. 1994


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