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quarta-feira, 27 de maio de 2009
PROVA DE SPP - BASILIO E JUAREZ
EACH - USP LESTE - PROVA DE SPP - WAGNER IGLECIAS - PARA O CURSO DE GPP - TERCEIRO SEMESTRE
Autores: Basilio e Juarez.
A CRISE ATUAL
O mundo vive crises mundiais cíclicas desde que o capitalismo deu as caras por aqui. Uma das primeiras grandes crises do "mercado de ações" que temos noticias, é aquela das grandes navegações. A Companhia das Índias Orientais foi bem sucedida ao ratear as despesas entre vários investidores para financiar suas explorações pelo mundo afora. Vendo que a Cia das Índias trouxe grande lucro àqueles que acreditaram, vários outros empreendimentos pipocaram, inflacionando assim o mercado de ações na época das grandes jornadas exploratórias. Várias empresas surgiram, emitindo papeis com promessas de lucros altos, que não se confirmaram, levando vários investidores a bancarrota. Depois desta, a mais lembrada é a Crise de 1929, quando os investidores perdem a confiança e começam a vender as ações, causando pânico na Bolsa de Nova Iorque e levando milionários à falência e ao desespero, a ponto de muitos se atirarem das janelas de seus prédios. Houveram outras, como a de 1987, mas por conta do espaço reduzido, vou direto a atual.
Manuel Castells em sua obra "A Sociedade em Rede" assim define o mercado:
“É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos. É global, porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e mercados), estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É informacional e global porque, sob novas condições históricas, a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interação”1.
Ou seja, se um mexicano espirrar, o criador de porcos do centro-oeste brasileiro, com certeza vai pegar uma gripe, este entrelaçamento das atividades econômicas mundiais, criou uma sinergia entre as diversas regiões, desde o curral de porcos do interior do Brasil, passando por Wall Street e indo parar nos cantões da Europa.
Hoje a fabricação de um produto qualquer, envolve pessoas de diferentes mundos. Seja o chileno que vai tirar o cobre da terra, ou o coreano que vai produzir o chip, ou o chinês que vai copiar e vender para o paraguaio, que desova na Galeria Pajé ou na Santa Efigênia, todos participam de uma parte do processo, muita das vezes não tem conhecimento do todo, ou mesmo nem sabe para que ou o que vão fazer daquelas peças feitas de forma robotizada pelos operários que não tem condições de comprar o produto acabado.
Consequentemente quando os bancos americanos resolvem seguir os conselhos do George W. Busch, que logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, mandou a população sair às compras, não tiveram dúvidas em distribuir créditos “a torto e a direito”, a qualquer um que solicitasse. Muito menos tiveram bom senso ao fornecer hipoteca em cima de hipoteca, dando direito de propriedade a duas ou três instituições sobre um único imóvel. Crédito farto estava a disposição de qualquer um que tivesse cartão de crédito e, se tem povo que gosta mais do dinheiro de plástico do que os americanos, me diga, pois eu desconheço. "A sociedade civil, para Gramsci, não é somente uma esfera de necessidades econômicas individuais, como seria para Marx - Sociedade civil como resultante da explosão da sociedade feudal - mas sim de organizações, grupos, valores e interesses em contato.”4
Isto posto, seria apenas questão de tempo para que alguém percebesse que os títulos de bancos, financeiras e construtoras americanas, estavam bichados, eram papeis podres. E bastou um perceber tal situação e começar a vender seus papeis para que os outros os seguissem, feito boiada em disparada.
Citando Rubem César Fernandes – Privado, porém público – estas empresas são multinacionais, atuando em escala global e suas ações hegemônicas tem consequências planetárias. Portanto caberia aos governos criarem mecanismos de negociação e sanção globais para impedir o livre arbítrio destas empresas. Afinal já vimos que o mercado não se autorregula, como queria nosso estimado Keynes. Como vemos, na crise atual, todos os capitalista são grande fãs desta máxima, a mão-invisível-do-mercado. Porém, uma parcela destes capitalistas, só querem usufruir dela enquanto seus investimentos estão retornando poupudos lucros. Mas quando o mercado vira e sua rentabilidade fica ameaçada, eles partem para a socialização dos prejuízos e não tem o menor pudor em pressionar os governos em busca de socorro, visando manter o status quo. O governo norte-americano já despejou um mar de dinheiro na economia americana para socorrer bancos, seguradoras, montadoras, construtoras, etc. – “Os pacotes de salvamento à bancos e investimentos em programas econômicos planejados ou implementados em 37 países já somam 11,324 trilhões de francos suíços (9,682 trilhões de dólares)”2 – para evitar as falências e o efeito cascata que esta quebradeira pode gerar no sistema financeiro. Como já vimos, que apesar de toda a crise, muitas empresas embolsaram o dinheiro e não percebemos uma verdadeira vontade de se curvar diante a tentativa de normatização e regulação por parte dos governos. Mas, como diz Rubem, a "construção de uma vida pública em permanente definição por meio da interação entre Estado, mercado e sociedade civil, que não se sobrepõem e que ao mesmo tempo se opõem e se atraem"3 é inevitável. Principalmente com a expansão das organizações da sociedade civil que lutam pelas causas ambientais, étnicas, de gênero, de consumidores etc. Ou como diria Gramsci, "visam à transformação da ideologia dominante, lutam para destruir as visões de mundo que são aparentemente universais, mas que na verdade, refletem apenas os interesses e valores da burguesia."4
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"
Esta frase corre a internet, como dita por Marx em 1867. Sabemos que a crise atual deve deixar muito comunista se regozijando e esperançoso de uma ressurreição do socialismo, mas esta frase não está no Capital. Basta pesquisar as mais diversas versões on-line para perceber que, talvez, seja mais uma das inúmeras propagandas dos comunistas órfãos.
De qualquer forma, a crise atual não pode trazer de volta o rigoroso e ineficaz sistema de regulação e controle estatal da economia por parte dos governantes, porém, como já dissemos, não podemos também deixar que a mão invisível tome conta do mercado. Acreditamos que sairemos muito melhores desta crise, haja visto que a crise toda teve inicio no altamente especulativo mercado de ações, e que cabe a parcela que produz, e aqui acreditamos que não apenas o "proletariado", mas também aqueles que investem seu capital de forma produtiva para alavancar a industrialização e fomentar o comércio, "buscar no âmbito da sociedade civil, a expansão do consentimento, no qual os interesses de vários grupos se conjuguem para formar um novo bloco hegemônico.", acreditamos que os governos devam criar maneiras mais adequadas de gerenciar e controlar o mercado para evitar as distorções que percebemos na era da "exuberância irracional", termo cunhado por Alan Greespan ex-presidente do FED.
Referências
1 - http://portalexame.abril.com.br/static/aberto/comentarios/comentario_00010.html
2 - http://www.swissinfo.ch/por/especiais/crise_financeira/Governos_gastam_quase_US_10_trilhoes_com_a_crise.html?siteSect=23451&sid=10341839&ty=st
3 - Frase retirada da apresentação em aula de "Privado, porém público - Rubem César Fernandes" do professor Wagner Iglesias do curso de GPP da EACH da USP, (2009).
4 - Frase retirada da apresentação em aula de "Vida e obra de Antonio Gramsci" do professor Wagner Iglesias do curso de GPP da EACH da USP, (2009).
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Um comentário:
A nota dada pelo professor Wagner Iglecias para esta prova foi 9.
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