domingo, 24 de abril de 2011

O pensamento racial antes do racismo.

 In: ORIGENS DO TOTALITARISMO - Hannah Arendt 

O pensamento central desse capítulo, é sobre o poder do racismo como forma de manipulação. Hannah Arendt discorre sobre questões cruciais referentes ao racismo. Segundo Arendt: se a máquina de guerra política dos nazistas já funcionava muito antes de setembro de 1939, quando se teve início a Segunda Guerra Mundial, é porque Hitler previa que na guerra política o racismo seria um aliado forte na conquista de simpatizantes. A ideologia racista, com raízes profundas no século XVIII, emergiu simultaneamente em todos os países ocidentais durante o século XIX e desde o início do século XX, o racismo reforçou a ideologia da política imperialista. Até o período da “corrida para a África”, o pensamento racista competia com muitas idéias livremente expressas que, dentro do ambiente geral de liberalismo, disputavam entre si a aceitação pública. Embora seja óbvio que o racismo é a principal arma ideológica da política imperialista, ainda se crê na antiga e errada noção de que o racismo é uma espécie de nacionalismo exagerado. Diante da gigantesca competição entre a ideologia racial e a ideologia de classes pelo domínio do espírito do homem moderno, já houve quem se inclinasse a ver numa a expressão de tendências nacionais, que preparavam mentalmente para guerras civis, e na outra a expressão de tendências internacionais, isto é, a preparação mental para a guerra entre as nações. A ideologia racial, e não a de classes, acompanhou o desenvolvimento da comunidade das nações européias, até se transformar em arma que destruiria essas nações. Historicamente falando, os racistas, embora assumissem posições aparentemente ultranacionalistas, foram piores patriotas que os representantes de todas as outras ideologias internacionais; foram os únicos que negaram o princípio sobre o qual se constroem as organizações nacionais de povos – o princípio de igualdade e solidariedade de todos os povos, garantido pela idéia de humanidade. Na França do século XVIII, a fim de recuperar para a nobreza a primazia inconteste, o conde de Boulainvilliers, propôs que seus companheiros de nobreza negassem ter origem comum com o povo francês. Assim, admitia que os gauleses estivessem na França havia mais tempo e que os francos eram estranhos e bárbaros. Já na Alemanha, desejando a união de todos os povos de língua alemã, eles insistiam na importância da origem étnica comum. Eram liberais na medida em que se opunham ao domínio exclusivo dos junkers
 prussianos. Enquanto a forma primitiva da ideologia racista da aristocracia francesa servia como instrumento de divisão interna e como arma para a guerra civil, a forma inicial da doutrina racista alemã criava-se como arma de unidade interna, vindo a transformar-se, depois, em arma para guerra entre as nações. Em 1853, o conde de Gobineau publicou um ensaio que se tornaria fundamental para as teorias racistas da história. A frase inicial dessa obra de quatro volumes – “O declínio da civilização é o fenômeno mais notável e, ao mesmo tempo, o mais obscuro da história” – revela claramente o interesse essencialmente novo e moderno do autor e o tom pessimista que domina sua obra, gerando a força ideológica capaz de unir todos os fatores ideológicos anteriores e as opiniões em conflito. As doutrinas de decadência parecem ter alguma conexão ideológica íntima com o sentimento racista. Mas sua real importância reside no fato de que, em meio a ideologias que louvavam o progresso, ele profetizava a ruína e o fim da humanidade numa lenta catástrofe natural. Cabia-lhe explicar por que os melhores homens – os nobres – não tinham mais esperanças de recuperar sua antiga posição social. Assim, passo a passo, identificou a queda do seu próprio castelo com a queda da França, com a queda da civilização ocidental e, finalmente, com a de toda humanidade, chegando à descoberta de que a queda das civilizações se deve à degenerescência da raça, e de que esta, ao conduzir ao declínio, é causada pela mistura de sangue. Isso implica, logicamente, que, qualquer que seja a mistura, é a raça inferior que acaba preponderando. Na visão de Arendt, o pensamento racial constituía uma fonte de argumentos de conveniência para diversos conflitos políticos, mas nunca monopolizou a vida política dos respectivos países; acirrou e explorou interesses opostos ou conflitos políticos, mas jamais criou novos conflitos, nem produziu novas categorias de pensamento político. É uma opinião que eu, particularmente, discordo, pois acredito que o poderio do racismo por detrás desses conflitos, gera exatamente a expansão de novos conflitos tanto dentro do país quanto de grandeza mundial. A autora continua, dizendo que é provável que esse racismo tivesse desaparecido a tempo, juntamente com outras opiniões irresponsáveis do século XIX, se a corrida para a África e a nova era do imperialismo não houvessem exposto a população da Europa ocidental a novas e chocantes experiências. O imperialismo teria exigido a invenção do racismo como única “explicação” e justificativa de seus atos, mesmo que nunca houvesse existido uma ideologia racista no mundo civilizado.



Fonte: 
http://pt.shvoong.com/tags/hannah-arendt/

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