quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"O que é o trabalho e como o conceito de trabalho, a noção de trabalho é entendido na sociedade brasileira."

USP – EACH – GPP – FESB – Professor José Renato

Alunos: Ildeu Basilio Pereira – 6409591 e Juarez - 6409292

"O que é o trabalho e como o conceito de trabalho, a noção de trabalho é entendido na sociedade brasileira."



"Aliás, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico Raízes do Brasil, ao refletir acerca da sociedade colonial brasileira, nela identificou elementos do pensamento retórico ao afirmar que, nós brasileiros, embora aduzamos o contrário.
" dedicamos, de modo geral, pouca estima às especulações intelectuais- mas amor à frase sonora, ao verbo espontâneo e abundante, à erudição ostentosa, à expressão rara. E que, para bem corresponder ao papel que, mesmo sem o saber, lhe conferimos, inteligência há ser ornamento e prenda e não instrumento de conhecimento e de ação". 1


Sérgio Buarque de Holanda mostra-nos como a questão do trabalho e do conhecimento é avaliado na sociedade brasileira. A colonização foi feita sem planejamento, onde o conhecimento cientifico serviu mais para perpetuar a desigualdade, do que instrumento para ação transformadora da realidade.

O Brasil tem longa tradição em usar o conhecimento para marcar a diferença entre a elite e o resto da população, principalmente o Brasil português da colonização e da independência. A formação em medicina, em direito ou engenharia não estava voltado para a atuação no desenvolvimento da medicina, ordenamento jurídico ou nas grandes obras de infraestrutura, e sim para adquirir uma linguagem mais rebuscada, uma imagem de nobreza e diferenciamento do restante da população.

Num país onde a maioria da população demorou muito tempo para ter acesso a educação formal. Os filhos da elite brasileira sempre fizeram questão de demonstrar um conhecimento, seja adquiridos nas faculdades ou na atuação profissional, como marca distinta do restante da população, conhecimento que conferia uma áurea de nobreza em relação a população analfabeta, iletrada e sem cultura, diferentemente de outros lugares do mundo. Em outras partes mundo, o conhecimento cientifico, cultural, serviam não só para esta distinção social, mas principalmente para a ação da transformação da realidade. O surgimento da sociedade moderna na Europa e nos EUA esta calcada na produção e utilização do conhecimento para a transformação da sociedade.

Pensadores como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado, Gilberto Freyre, Celso Furtado, Raymundo Faoro, ao pensar a história brasileira tem como parâmetro a história do capitalismo moderno, da Europa moderna. Porque na Europa e nos EUA houve o desenvolvimento do capitalismo de modo mais eficiente e eficaz e aqui no brasil tivemos uma dificuldade maior? Uma das raízes dá-se por conta desta maneira brasileira em entender o conhecimento, a tradição bacharelesco, ou seja, a aquisição de um título de bacharel serve mais como título de nobreza usado nas relações sociais dos indivíduos, os doutores sem doutorados. No Brasil é mais distinto ter o conhecimento e demonstrar-lo, mesmo que superficialmente, muito mais pela capacidade da retórica, de falar de forma rebuscada, difícil usando termos que a maior parte da população não entende, do que usar este conhecimento para a transformação da realidade. Esta é uma questão extremamente importante e fundamental de se pensar o Brasil. Para entender o conceito de trabalho dentro da sociedade brasileira.
Na sociedade brasileira quem realiza o trabalho para a transformação do meio, não são os "nobres" da elite, e sim a “plebe”. Porque na Europa, EUA e outros lugares surgiu uma sociedade moderna, dinâmica, industrializada? Na Europa esta transformação foi feita pelos burgueses, a classe social que se distingue da nobreza justamente pela valorização do trabalho e pela organização. No Brasil não existiu uma classe burguesa, a produção econômica no Brasil era voltada para o exterior e baseada na mão-de-obra escrava.

A herança dos tempos coloniais é a desvalorização completa daquele que realiza o trabalho, os senhores de engenho, conforme pudemos ler no V capítulo de Casa Grande e Senzala, passavam os dias deitados em redes rezando e até a sua locomoção, muitas das vezes, se dava por meio de liteiras. Pois na nossa sociedade colonial, “de bem” era aquele que não necessitava realizar trabalho, tanto é que o escravo alforriado, conforme vimos num dos melhores seminários apresentados, tinha como meta assim que as condições financeiras lhe permitisse, a compra de um escravo, o que poderia alçar o alforriado à condição de pessoa de “bem”.

Como dito pelo professor José Renato, o livro Memorias Póstumas de Braz Cubas, de Machado de Assis, retrata bem este período da nossa história. Um período onde a elite não trabalha e tem como ideal o cargo público, onde não se faz nada. Logo, se trabalho é atividade física ou intelectual com objetivo de transformar a realidade, percebemos que nossa elite estava muito mais interessada num emprego, em ocupar um cargo no governo.

Os desejos desta elite são: ter um grau de bacharelado juntamente com o anel de doutor, até hoje usado pelos advogados e um cargo público. O cargo público era sinal de prestigio e de status social acessível apenas àqueles com grau de bacharelado, ou seja, reservado a pessoas "letradas", amigos e filhos da famílias mais nobres e tradicionais.

Isto é importante para entendermos o Brasil também nos dias de hoje, Antônio Cândido, fala que o Brasil muda num determinado momento, passando para um Brasil do trabalhador e do imigrante. Só que as raízes do Brasil, objeto de estudo desta disciplina (FESB), estão assentadas na desvalorização do trabalho e nas tentativas das elites dominantes em construir um "status" de nobreza por meio da aquisição de títulos de bacharéis e doutores. A tradição no Brasil é criada através da posse da terra e pela educação dada aos filhos dos senhores da terra, que vão se tornar médicos, uns poucos engenheiros, mas, principalmente advogados, profissão tradicional da elite brasileira e que, no fundo, visa apenas a manter o statu quo.
“In statu quo res erant ante bellum”, resta saber quando faremos de fato a guerra que vai mudar esta situação.



1 - http://www.neofito.com.br/artigos/art01/jurid259.htm


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Alunos: Raquel S. N. - 6550252 e Ricardo Aurélio dos Santos - 6409222

Título:
A resposta a muitos problemas da humanidade está ligada à sua história.


História esta, marcada por lutas entre classes, exploração e crueldade. Entre nós não é diferente. Nosso passado colonial, latifundiário e escravocrata, não deixou somente marcas econômicas, mas também ranços político-culturais, valores que permeiam ainda hoje no cenário brasileiro.

Um bom exemplo é a relação com o trabalho, prática que evidencia a postura elitista e excludente perante a sociedade, assim como veremos doravante. Já no período colonial, a hierarquização das classes e a divisão das tarefas eram bem claras, aos ricos o desfrute do poder e do ócio enquanto aos pobres cabia-lhes o trabalho manual, além da obediência à classe dominante.

O ócio é, nesse momento, sinônimo de poder e riqueza, relacionado com o status da fidalguia lusitana, acomodada ao que lhe cabia como nobre, sustentou-se ainda na utilização de escravos e, posteriormente, de empregados nas mais variadas funções, em geral subalternas, trazendo a idéia de que eles eram criados para servidão. Nas cidades era comum ter-se o “negro do ganho”, o qual, ou era alugado para outrem, ou desempenhava as mais diversas e por vezes degradantes funções, como a prostituição, arrecadando assim fundos para seu dono. Até mesmo negros alforriados tinham o seu “negrinho do ganho”, já que isso lhe conferia status perante a sociedade, posto ter sido o trabalho manual associado durante muito tempo a escravidão.

Diante desse panorama, ser dotado de algum título que pudesse render “status de fidalguia” era algo almejado e buscado pela elite e pela classe média. Cargo público, principalmente no alto escalão, bem como diploma de bacharel em direito ou medicina eram algumas opções que poderiam garantir a palavra “Doutor” no antenome, assim como, no meio rural, ter grandes lotes de terra e alguns agregados sob seu comando e proteção garantia o título de coronel, sem, contudo, nenhuma relação com a carreira militar. Tal título, portanto, não estava relacionado com os feitos acadêmicos, mas com o prestígio e a soberania de uma pequena elite letrada, ou nem tanto, perante a massa analfabeta e dominada.

Expressões como “você sabe com quem esta falando?” advém desse período e conhecidamente permanecem até hoje. No âmbito jurídico, por exemplo, o personalismo permitia que vontades particulares encontrassem seus ambientes em círculos herméticos e pouco acessíveis à ordenação impessoal do tipo burocrático e, o cargo jurídico permanece até hoje, com seu status de “marfim”, dotado, em alguns sentidos, de privilégios. Este é um bom exemplo de como as marcas do passado colonial são sentidas e repetidas mesmo com o decorrer do tempo.

Portanto, no Brasil temos ainda uma classe elitista que bebe em seu passado estamental, e, também, o público e o privado ainda se confundem. Práticas como o particularismo e a desigualdades são naturalizadas, quando tratamos da relação com o trabalho, o cenário é o mesmo. Sendo assim, os privilégios concedidos pelo poder são distribuídos àqueles que possuem status de autoridade, excluindo a grande maioria dos brasileiros, que se veem à margem dos principais atos políticos e sociais.

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