sábado, 25 de fevereiro de 2012

A USP e seus desafios



Sábado, 25 de Fevereiro de 2012, 03h08
Maior instituição de ensino superior do País, com um orçamento de R$ 3,3 bilhões e cerca de 6 mil professores, 16,1 mil funcionários e 88,9 mil alunos de graduação e pós-graduação, a Universidade de São Paulo (USP) está pagando, com decisões equivocadas, o preço de seu gigantismo.

Na semana passada, o Conselho de Graduação (CoG)aprovou a proposta da pró-reitora Telma Zorn de premiar os docentes mais bem avaliados com equipamentos eletrônicos e até o financiamento de viagens para participação em congresso internacionais. Pela decisão, os professores que lecionam nos 240 cursos de graduação da USP ficam sujeitos a um regime de pontuação que leva em conta, entre outros itens, a "empatia" com os alunos, número de livros didáticos escritos, as atividades de orientação de trabalhos de conclusão de curso aprovados com louvor e de trabalhos de iniciação científica premiados, a oferta de disciplinas optativas livres e a coordenação de turmas.

Os docentes que quiserem concorrer aos prêmios devem se inscrever nos departamentos ou ser indicados por alunos e colegas de carreira. Cada uma das 42 unidades da USP selecionará, por meio de suas respectivas comissões de graduação, três professores, que serão premiados com uma placa personalizada. O primeiro colocado receberá um notebook e um projetor multimídia e terá seu nome enviado para a avaliação final do CoG, que vai designar - com os mesmos procedimentos das 42 unidades - os seis premiados de toda a USP.

A criação do prêmio foi justificada pela pró-reitora Telma Zorn como uma forma de estimular os docentes a "valorizarem a graduação". A iniciativa, contudo, foi mal recebida por parte da comunidade acadêmica. Nas redes sociais, alguns professores consideraram a premiação "digna das promoções mais bizarras do comércio". Outros classificaram a premiação como o "Baú da felicidade docente" e afirmaram que o CoG transformou em escárnio a discussão sobre a reforma dos cursos de graduação da USP, que, em sua maioria, estão com currículos ultrapassados e defasados da realidade do mercado de trabalho. "Dar computador e iPad parece coisa de programa de auditório. É até caricato", diz o professor Luís Renato Martins, da Escola de Comunicação e Artes.

As críticas mais contundentes partiram da Associação dos Docentes da USP. Segundo a presidente da entidade, Heloisa Borsari, antes de avaliar o desempenho dos professores a instituição deveria melhorar as condições de trabalho a que estão submetidos, com classes lotadas e falta de equipamentos básicos em sala de aula, como retroprojetores e aparelhos de power point.

O maior problema é a sobrecarga dos docentes de graduação, pois as vagas deixadas pelos que se aposentam não estão sendo mais preenchidas. Como decorrência, há disciplinas que deixaram de ser oferecidas. Em documento enviado à Assembleia Legislativa, a Reitoria reconhece que a USP se encontra em situação crítica. Segundo o texto, dos cerca de 6 mil docentes em atividade, 25% já estão em condições de se aposentar. Pelas estimativas da Reitoria, nos próximos cinco anos a instituição perderá 40% de seu corpo docente, por causa das aposentadorias. Para tentar contornar a situação, o governador Geraldo Alckmin enviou projeto à Assembleia pedindo autorização para contratar 2,7 mil professores.

Para a Reitoria, as vagas deixadas pelos docentes que se aposentam só podem ser preenchidos com prévia autorização legislativa. Segundo a Reitoria, quando elaborou seu projeto de expansão, na década de 60, a USP contratou grande número de professores - e eles estão atingindo os 70 anos, idade máxima de permanência no serviço público. Por seu lado, as entidades docentes acusam o reitor Grandino Rodas de ter privilegiado a construção de novos edifícios, inclusive em bairros nobres da capital, transferindo para as obras verbas antes destinadas ao setor de recursos humanos da USP. O ano letivo de 2012 vai se iniciar em meio a mais um embate entre setores do corpo docente e os dirigentes universitários sobre o futuro da USP.


Fonte: Estadão

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